Título: Sem almoço grátis
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 22/10/2007, Economia, p. 16

O Banco Central ficou desta vez entre a cruz e a caldeirinha na última reunião do Comitê de Política Monetária. Como tinha de optar entre uma maior valorização do real (de certo modo indesejável por causa de suas repercussões futuras na economia) ou aplacar as preocupações de parte do mercado financeiro em relação ao comportamento da inflação, escolheu a primeira hipótese.

Entretanto, não há almoço grátis em economia, e o custo dessa decisão será a acumulação de prejuízos pelo Banco Central em operações de câmbio, para os quais será empurrado pelo mercado a fim de evitar que a cotação do dólar desabe. Se, no dia 31, o Federal Reserve cortar os juros novamente nos Estados Unidos, aí então é que os prejuízos deverão se acentuar.

Lucros ou prejuízos do Banco Central são automaticamente transferidos para as contas públicas. As perdas podem ser cobertas pela simples emissão de moeda, ou por endividamento.

No caso específico dessas operações de câmbio, as perdas estão embutidas nas contas de juros, e por isso o total desses encargos vem encolhendo relativamente pouco, sem acompanhar, em reais, o ritmo percentual de queda da taxa Selic.

Como agora só resta esperar pela outra reunião do Copom no início de dezembro, tomara que a "pausa" no processo de ajuste dos juros sirva ao menos para desarmar as expectativas negativas que estavam se formando em uma parte do mercado financeiro quanto ao comportamento futuro da inflação.

Algum risco sempre existirá, especialmente quando a economia cresce (o crescimento em si já provoca um desequilíbrio momentâneo). Mas a economia brasileira conta hoje com muitos anteparos para segurar a inflação. Um exemplo concreto é o da gasolina. Com a alta das cotações internacionais do petróleo, o preço da gasolina no posto deveria ter subido quase que de imediato. Porém, a Petrobras, como principal fornecedora do produto, tem de ponderar se isso é conveniente para a empresa, pois se a gasolina começar a aumentar muito perderá espaço no mercado doméstico para o álcool. A alternativa seria a exportação do produto. Então, o preço da gasolina só sobe aqui se as cotações do combustível lá fora ficarem mais atraentes. E como a qualidade da gasolina brasileira ainda não se equipara à dos Estados Unidos e de países europeus...

Até o fim do mês deve estar concluída a avaliação das empresas que vão compor a futura companhia petroquímica do Sudeste, cujos principais acionistas serão o grupo Unipar e a Petroquisa. A nova companhia já nascerá com duas grandes centrais petroquímicas (Petroquímica União, em Mauá, e Riopol, em Duque de Caxias) e indústrias de segunda geração no ABC paulista e na Baixada Fluminense.

A sede operacional da companhia ficará no Rio, onde também estão os dois grupos controladores, mas fortes investimentos, da ordem de R$2 bilhões, estão sendo feitos em São Paulo, para modernizar e aumentar a capacidade de produção da Petroquímica União (PqU) e de outras unidades do pólo de Mauá.

Definida a nova companhia petroquímica do Sudeste, as atenções se voltarão para o projeto Comperj, que surgirá em Itaboraí/São Gonçalo.

A Petrobras já está aprofundando os estudos de engenharia para a construção da refinaria que se constituirá na base do futuro Comperj. Como essa refinaria processará petróleo brasileiro, a tecnologia teve que ser desenvolvida no país, a partir das experiências já conhecidas no mundo. Tal tecnologia está a cargo do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras), e se tornou confiável depois de testada na prática, com a série de adaptações feitas nas antigas refinarias da estatal, concebidas para processar óleo leve e que hoje funcionam muito bem usando 70% de óleo pesado extraído da Bacia de Campos.

Mas, integrado à futura refinaria de Itaboraí, haverá um pólo de primeira e segunda gerações de produtos petroquímicos, com participação direta (e até majoritária) de capitais privados. E nesses empreendimentos é que a companhia petroquímica do Sudeste poderá desempenhar papel importante e decisivo, a ser definido.