Título: Palavras proibidas no discurso oficial
Autor: Grondona, Mariano
Fonte: O Globo, 22/10/2007, O Mundo, p. 21

Cristina Kirchner jamais pronunciou a palavra insegurança desde que começou sua campanha presidencial. Tampouco falou da luta contra a corrupção nem de transparência no poder e se referiu apenas por três vezes à inflação. Todos temas-chave que a oposição tentou, ainda que com pouco êxito, instalar na agenda dela.

A informação aparece na análise feita pelo jornal ¿La Nación¿ de 45 discursos da candidata oficial nos últimos três meses de campanha, desde que se lançou em La Plata. Segundo especialistas em comunicação política, a estratégia da primeira-dama esteve centrada em blindar sua figura de algumas contas pendentes do governo do presidente Néstor Kirchner.

A insegurança não é uma palavra maldita só para a candidata. O próprio presidente se recusou a usá-la em seus anos na Casa Rosada. Desde que começou a campanha, Cristina Kirchner prometeu somente seis vezes que se chegar à Presidência garantirá ¿mais segurança¿. Ela não tratou o tema em si, mas sim como parte de uma enumeração que sempre foi antecedida pela promessa de ¿mais saúde, mais educação, mais justiça, mais moradia¿. E somente o incorporou no último mês de campanha.

A única ocasião em que a palavra insegurança surgiu em seus discursos foi durante uma conferência internacional de saúde, que fez em Buenos Aires, dia 15 de agosto. Mas Cristina falava da Inglaterra, não da Argentina.

Cristina Kirchner sempre falou da continuidade do modelo, da qualidade institucional, do pacto social, e apelou quase em excesso para uma frase: ¿Os argentinos recuperaram a auto-estima¿.

¿Ela poderia ter ficado mal se fosse uma campanha competitiva. Mas como a eleição parece não ter um grande efeito na sociedade, acho que a opção foi inteligente¿, analisou Gustavo Martínez Pandiani, cientista político e decano da Universidade del Salvador. Para ele, a candidata optou por um ¿discurso refugiado¿.

MARIANA VERÓN escreveu este artigo para o ¿La Nación¿, do GDA (Grupo de Diários América)