Título: Polícia prende 27 que adulteravam leite longa vida com soda cáustica
Autor: Mayrink, Itamar e Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 23/10/2007, Economia, p. 23

Produção de duas cooperativas mineiras era imprópria para consumo.

BELO HORIZONTE e SÃO PAULO. Vinte e sete pessoas foram presas ontem pela Polícia Federal (PF), por adulteração de leite do tipo longa vida, sendo 19 em Uberaba, no Triângulo Mineiro, e oito em Passos, no Sul de Minas. Entre os presos na Operação Ouro Branco estão os diretores de duas cooperativas de produtores de leite - Coopervale (do Vale do Rio Grande) e Casmil (Sudoeste Mineiro) - e funcionários do Ministério da Agricultura. As cooperativas são acusadas de adicionar substâncias proibidas ao leite, tornando o produto impróprio para o consumo humano.

Nas amostras coletadas antes da operação, foram encontradas água oxigenada e soda cáustica, que eram acrescentadas a outros produtos químicos durante o processamento do leite longa vida.

Polícia encontra amostras irregulares da Parmalat

Um dos clientes das cooperativas é a Parmalat. À tarde, a empresa negou que compre produtos "processados, envasados ou embalados" pela Casmil e pela Coopervale, e omitiu que adquiria leite natural das duas cooperativas. Mais tarde, a informação da compra de leite in natura foi confirmada por uma assessora de imprensa da Parmalat, que se recusou a responder a outras perguntas. À noite, a Parmalat divulgou uma errata na qual admite comprar leite cru dos produtores ligados às cooperativas.

Na primeira nota, a Parmalat diz ainda que compra leite de mais de cinco mil produtores, sempre de acordo com as normas do Ministério da Agricultura, que mantém um "rigoroso processo de avaliação" do leite cru e que suas unidades rejeitam produtos contaminados por produtos nocivos à saúde ou "alheios à composição natural do leite". A Parmalat não explicou, porém, como três amostras de leite da empresa analisadas pela Polícia Federal estavam impróprias para o consumo, de acordo com o delegado Ricardo Ruiz da Silva.

Segundo reportagem do "Jornal Nacional" ("JN"), a PF e o Ministério Público Estadual apreenderam notas fiscais de vendas do leite para a Parmalat e também para a Nestlé. A Nestlé informou ao "JN" que não produz nem comercializa leite do tipo longa vida. E afirmou que, baseada em testes, atesta que não há risco no consumo de seus produtos.

Na operação da PF, foram encontradas irregularidades apenas no leite tipo longa vida. As duas cooperativas foram parcialmente interditadas e toda a produção de leite longa vida, apreendida.

Produto adulterado teria chegado a outros estados

De acordo com a PF, as cooperativas, que fornecem leite para várias marcas vendidas no país, tinham o objetivo de aumentar a quantidade do leite e ampliar o prazo de conservação do produto. A fraude foi descoberta em análises feitas pelo Ministério da Agricultura.

Segundo o coordenador da operação, delegado Ricardo Ruiz Silva, a Polícia Federal está recolhendo amostras de leite longa vida em todo o país, porque há indícios de que o produto teria sido distribuído a empresas de diferentes estados.

- Nos vários depoimentos, inclusive de funcionários das cooperativas, confirmamos que o produto é distribuído para várias marcas vendidas fora da região, como a Parmalat e a Calu.

Entre os presos estão dois funcionários do Ministério da Agricultura, que trabalhavam nas duas cidades, como responsáveis pela fiscalização das cooperativas. A operação envolveu cerca de 200 agentes federais, integrantes dos ministérios públicos federal e estadual e de técnicos e fiscais do Ministério da Agricultura.

(*) Da CBN