Título: Jobim: Anac é leniente
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 24/10/2007, O País, p. 3

A CRISE CONTINUA

Ministro diz que agência não cumpre papel de fiscalizar empresas e solucionar o caos aéreo.

Em plena queda-de-braço com o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que a agência agiu com leniência na solução do caos aéreo registrado nos últimos dias em São Paulo e a responsabilizou pelos transtornos vividos pelos passageiros. Embora tenha reconhecido que os problemas foram causados pelas fortes chuvas, Jobim afirmou que as empresas aéreas não deram atendimento adequado aos passageiros. Para ele, a Anac, ao agir com demasiada brandura, não cumpriu seu papel de órgão fiscalizador e regulador do setor.

- (A Anac) Continua naquela leniência que a caracteriza nesse ponto, mas estamos compondo, com o tempo, a questão da Anac. Já temos designação de um membro, e amanhã serão sabatinados mais dois. Com tempo, vamos resolvendo todos os assuntos - disse Jobim, que trabalha para mudar o comando da agência.

Sem citar Zuanazzi, Jobim mandou uma resposta a ele, que anteontem, no Rio, disse que não deixaria a diretoria da agência, mesmo depois que os quatro diretores indicados pelo ministro assumirem seus mandatos.

Após participar da solenidade de entrega do Mérito Aeronáutico, na Base Aérea de Brasília, Jobim afirmou que o governo não teria como resolver os problemas meteorológicos, mas cobrou ação da Anac no caso do mau atendimento aos passageiros e no encaminhamento das reclamações. Cabe à Anac fiscalizar a atuação das companhias aéreas.

- O que observamos claramente foi a falta de assistência pelas empresas aos seus passageiros, e esse é um problema. Ou seja, mostra a inadequação ainda da conduta das empresas no atendimento correto a seus passageiros, e nesse assunto nós podemos intervir para definir regras que possam impor condutas dessa natureza, inclusive em relação a ações da Anac - disse Jobim.

E acrescentou:

- Em relação ao tempo, eu não tenho como chegar a São Pedro e resolver o problema.

Zuanazzi resiste a pressão para sair

Jobim assumiu o Ministério da Defesa em julho com a missão de mudar o perfil de atuação da Anac para resolver os problemas aéreos no país, que se arrastam desde setembro do ano passado, quando caiu o avião da Gol, matando 154 pessoas. Dos cinco integrantes do comando da agência, quatro já saíram, mas ainda falta Zuanazzi, que insiste em permanecer no cargo. Ontem, ele nem sequer participou da solenidade na Base Aérea que comemorou o Dia do Aviador.

O ministro já colocou na Anac o brigadeiro Allemander Jesus Pereira Filho. Amanhã devem ser sabatinados no Senado mais dois indicados: Marcelo Pacheco dos Guaranys e Alexandre Gomes de Barros. Jobim negou ontem que esteja travando um embate político com Zuanazzi. Como tem mandato, o presidente da Anac só sai da Anac por vontade própria. O ministro disse que, antes de resolver a situação de Zuanazzi, precisa nomear outros três conselheiros, de forma que a agência possa funcionar.

- Cada coisa no seu tempo. Ainda não terminamos o almoço e temos de aguardar o jantar. Já deixamos claro que precisamos ter nova estrutura na Anac, que responda às necessidades do espaço aéreo brasileiro - afirmou.

Jobim sinalizou que o caminho para a saída de Zuanazzi poderá ser o processo instaurado para apurar irregularidade que teria sido cometida pela ex-diretora da Anac Denise Abreu. Ela teria juntado uma portaria sem validade a documentos apresentados à Justiça para liberar a pista de Congonhas, depois do acidente do avião da TAM.

- Os passos são dados no tempo oportuno. Não tenham ansiedades - desconversou Jobim.