Título: Consumo de drogas é maior entre a classe A
Autor: Vasconcelos, Fábio
Fonte: O Globo, 24/10/2007, Rio, p. 19

Jovens encabeçam pesquisa.

Quando o assunto é consumo de drogas, população carcerária ou acidente de carro, o personagem envolvido tem sempre as mesmas características: é jovem, solteiro e do sexo masculino. A informação, que faz parte da pesquisa "O estado da juventude: drogas, prisões e acidentes", foi apresentada ontem pelo economista Marcelo Neri, durante o seminário Desafios da Gestão Pública de Segurança, que será realizado até hoje, no auditório da FGV. A diferença, segundo ele, é que, em relação ao consumo de drogas e aos acidentes, o problema afeta principalmente os jovens da classe A.

Para analisar o consumo de drogas, Neri usou a Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, de 2003, que aponta o percentual da população que declara, espontaneamente, despesas com maconha, cocaína e lança-perfume: são 0,06%, num total de 182 mil entrevistados. Deste total, 89,18% são homens, 50,74% têm entre 20 e 29 anos e 62,22% são da classe A. Este capítulo do estudo é chamado de "Droga de elite", numa alusão ao filme "Tropa de elite", de José Padilha.

- Quem consome droga é um jovem da elite, como no filme. Talvez isso ocorra porque nossa política enfatiza mais a oferta e menos o consumo. Talvez esteja na hora de termos um trabalho mais forte, seja de liberação ou repressão ao uso das drogas - disse o pesquisador.

Como só declara usar drogas quem quer, Neri acredita que o jovem de classe média alta faz isso por uma sensação de impunidade. Ao avaliar a população carcerária, Neri usou dados do Censo do IBGE. Ao todo, 96,61% são homens; 51,96%, de 20 a 29 anos; 79,1%, solteiros; e 17,51%, analfabetos.