Título: Anvisa (ainda) não fez testes no leite
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 24/10/2007, Economia, p. 29

Agência assegura que água oxigenada não traz risco à saúde mas reduz valor nutricional do produto.

SÃO PAULO, BELO HORIZONTE, BRASÍLIA e RIO. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável por fiscalizar o controle dos produtos industrializados vendidos à população, disse ontem que ainda não constatou a existência de leite adulterado nas prateleiras do varejo e que também não realizou testes até agora para identificar a contaminação. Na segunda-feira, uma operação da Polícia Federal nas cooperativas Casmil e Coopervale, de Minas Gerais, encontrou soda cáustica e água oxigenada e citrato de sódio no leite in natura. O Ministério da Agricultura, que fiscaliza a produção, minimizou o impacto da adulteração do leite. Em nota oficial, afirmou que parte do produto vendido pelas duas cooperativas é de leite cru refrigerado, o que reduz os riscos de contaminação para o consumidor. Mas disse que poderá fazer uma nova inspeção.

A Anvisa recomenda que os consumidores fiquem atentos a qualquer aspecto diferente no leite, como a cor, o cheiro ou o paladar. Caso algo seja encontrado, o cidadão deve comunicar os agentes de vigilância sanitária através do e-mail alimentos@anvisa.gov.br.

Segundo Denise Resende, gerente geral de Alimentos da agência, haverá uma ação coordenada com o Ministério da Agricultura para checar as condições dos produtos:

- O citrato de sódio é um produto liberado no Brasil e não aparece nos itens industrializados. Não causa problemas à saúde. A água oxigenada tira a qualidade nutricional do produto. Deixa o leite mais ralo, mas sem qualquer dano à saúde.

Segundo Denise, o problema está na soda cáustica, usada na limpeza de tanques e dutos, que provoca problemas gástricos. Mas ela acredita que os riscos são baixos porque, quando o leite in natura chega à indústria, é feita uma série de testes capazes de detectar a presença de soda cáustica:

- Ainda não temos relato de pessoas que tiveram problemas com o leite. Se isso acontecer vamos aplicar as sanções previstas: advertência, multa, interdição e apreensão dos produtos.

O Procon de São Paulo recomenda que os consumidores procurem a Anvisa (0800-61-1997) e os fabricantes se observarem que o leite está com cor ou sabor diferente. Nesse caso, o Código de Defesa do Consumidor manda trocar o produto.

Ontem foram liberadas 13 das 27 pessoas presas em Uberaba e Passos, acusadas de envolvimento no esquema. Em Uberaba, o Ministério Público estadual fechou a Coopervale e determinou o recolhimento de todas as caixas de leite longa vida das marcas Centenário, Calu e Parmalat nos mercados. Já em Passos um promotor retirou os lacres de três tanques da Casmil. Cerca de 60 mil litros de leite foram transferidos para um único tanque, que está lacrado. Segundo a PF, a fraude geraria lucro diário de R$20 mil. Outras cooperativas e distribuidoras estão sendo investigadas.

A Parmalat divulgou nota informando ter encaminhado mais de 50 amostras de leite de todo o país para análise em diversos laboratórios, inclusive um credenciado pelo Ministério da Agricultura e pela Anvisa. Os testes, segundo a empresa, não indicaram "quaisquer problemas de qualidade". Apesar disso, a Parmalat descredenciou as duas cooperativas.