Título: Feijão com arroz nada básicos
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 24/10/2007, Economia, p. 29

Seca e entressafra encarecem o prato típico do brasileiro. No Rio, mistura subiu 5,7% .

Oprato típico da mesa dos brasileiros está mais caro nos últimos dois meses. O feijão e o arroz tiveram safras menores e, por isso, há menos oferta dos dois produtos no mercado interno. Nos últimos 30 dias, o consumidor pagou até 20% a mais pelo quilo do feijão e até 14% a mais pelo do arroz. Até o fim do mês, segundo especialistas, essa dobradinha deve continuar cara nos supermercados do Rio.

- A safra do arroz está 4% menor do que a do ano passado. E a do feijão chegou a ter uma quebra bem maior, de 20%, devido à falta de chuvas - comentou Eulina Nunes, economista do IBGE, referindo-se à seca registrada nos últimos meses.

Os índices de inflação já captaram as variações. No Índice de Preços ao Consumidor (IPC), a combinação de arroz e feijão ficou 5,72% mais cara em outubro no Rio. No mês, o arroz encareceu 2,95% e, no ano, 5,17%. Já o feijão preto subiu no varejo do Rio 11,58% e, no ano, 18,02%.

- Em período de entressafra, os preços acabam se elevando. Algumas coletas de preço já indicam um ritmo menor na aceleração. Mas os preços ainda estão altos - afirmou André Braz, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV).

No atacado, os aumentos são ainda maiores. Na Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, o fardo de 30kg do feijão preto é negociado a R$50, o que está 42,8% acima dos valores de um mês atrás. O carioquinha passou a valer R$75 (alta de 25%). E o do arroz, por sua vez, custa R$42 (31,2%).

- Além das safras menores, estamos em período de entressafra. E ainda é preciso lembrar que alguns produtores substituíram o feijão pelo milho (por causa do aumento da cotação no mercado externo). No caso do arroz, o consumo do Nordeste cresceu muito, devido ao ganho de renda desses consumidores. Com isso, há menos produto em oferta, elevando os preços - disse José de Souza, presidente da Bolsa.

Queda de consumo deve frear reajustes

No supermercado Princesa, o preço do feijão vem subindo 10% ao mês desde agosto. Já o arroz ficou mais caro num ritmo menor: nos últimos 60 dias, a alta acumulada é de 10%. No Zona Sul, o quilo do arroz branco Príncipe (R$1,85) e o do feijão preto Bem (R$2,25) estão acima da média. Num levantamento feito pela Fecomércio-RJ, o arroz custa, em média, R$1,72; e o feijão, R$1,92. No Prezunic, o quilo do feijão chegou a ficar 18% mais caro este mês. Já o arroz apresentou alta entre 10% e 14%.

- O arroz já dá sinais de que deve sofrer algumas reduções. Conseguimos negociações melhores, podemos repassar algumas baixas para o consumidor. Já o feijão continua com preço firme - disse Genival de Souza, diretor do Prezunic, frisando que já foram registrados efeitos nas vendas. - Houve uma redução do consumo de cerca de 10% sobre o mesmo período do ano passado. É o preço, mas também uma mudança nos hábitos alimentares da população.

O presidente Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio também não acredita que os preços se sustentem nesse patamar. Para ele, a própria redução no consumo pode frear os reajustes para cima desses itens.

- No Rio, o feijão preto é o que puxa o consumo, chega a representar 90% do total. E nesse feijão dá para botar mais água. Agora é hora de o consumidor correr atrás da promoções - lembrou Souza.

Mesmo nesse cenário, especialistas descartam uma ameaça à inflação. Nas contas da Paraty Investimentos, a mistura de arroz e feijão ficou 15% mais cara no atacado em outubro. O feijão chegou a ter seu custo dobrado em apenas um mês.

- Apesar desses aumentos, o impacto não tem sido tão grande na inflação. O arroz e o feijão fazem parte do grupo dos Cereais, que tem um peso de 0,8% no índice (IPCA). Nossa coleta indica uma alta de 4,5%, com um início de desaceleração. Essa alta contribui apenas com 0,03% no índice, o que não terá grandes problemas por causa da desaceleração dos outros itens do IPCA - comentou João Philippe de Orleans e Bragança, economista da Paraty Investimentos.