Título: CVM pode investigar vazamento de preço na oferta de ações da Bovespa
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 24/10/2007, Economia, p. 30

Poucos investidores desistiram da reserva. Órgão edita instrução que regula bolsas.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou ontem que poderá investigar a atuação dos bancos coordenadores na oferta pública de ações da Bovespa Holding, empresa criada pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) para abrir capital. A CVM detectou que Goldman Sachs, Credit Suisse e UBS Pactual haviam se comunicado com investidores institucionais (fundos e grandes investidores) dizendo que a faixa de preço dos papéis, originalmente de R$15,50 a R$18,50, seria alterada diante da forte demanda.

No entanto, a CVM afirma que o eventual processo não interfere na operação. O órgão exigiu que a Bovespa Holding publicasse ontem um novo comunicado ao mercado, em que informa a nova faixa de preços prevista para o lançamento das ações, de R$20 a R$23. O prazo para reserva acabou ontem e as ações estréiam na próxima sexta-feira. Para os investidores pessoas físicas que já haviam feito reservas, a Bovespa Holding foi obrigada pela CVM a dar mais dois dias para desistirem, manterem ou elevarem suas reservas.

A elevação do preço e a possibilidade de vazamento da informação foram mal recebidas no mercado. Para alguns investidores, ficou a sensação de que as corretoras - que estão vendendo suas participações na Bovespa ao mercado - estariam embolsando o lucro que os investidores poderiam ter nos primeiros dias, justamente por a demanda estar forte pelas ações.

- Ficou a sensação de que os ofertantes viram que podiam ganhar mais em cima da demanda e resolveram aumentar o preço. Isso pegou mal, foi como se eu estivesse vendendo um carro a R$20 mil e, quando vi que muita gente no mercado quer o carro, subi para R$50 mil - disse um gestor de fundos.

Apesar disso, foram poucos os investidores que desistiram de suas reservas. Boa parte confirmou o interesse e até aumentou o valor pedido em ações. Outros decidiram entrar, inclusive investidores que nunca aplicaram em ações.

Investidor poderá comprar ações estrangeiras

Ontem, a CVM publicou a Instrução 461, que disciplina as bolsas de valores, aguardada para o ambiente em que estas têm capital aberto. Pela norma, o órgão precisará autorizar a participação de qualquer investidor superior a 15% no capital das bolsas.

Para quem já for uma corretora, o limite é de 10%, inalterável. Além disso, estabeleceu separações claras entre a diretoria da bolsa como empresa e a que cuida da auto-regulação e fiscalização. Também abriu a possibilidade de corretoras oferecerem negociação de ações no exterior, mas apenas para investidores qualificados, com mais de R$1 milhão.

Já fazendo uso da nova norma, no início da noite, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), que também se preparar para abrir capital, anunciou uma interligação com a Chicago Mercantile Exchange (CME), pela qual a CME deterá 10% das ações da BM&F por R$1,3 bilhão, em troca de uma participação de 2% na CME.