Título: Túnel fechado e chuva forte param a cidade
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Fonte: O Globo, 25/10/2007, Rio, p. 14

CAOS NA CIDADE: Tráfego foi três vezes mais lento. Confusão atrapalhou também compromissos de autoridades.

À tarde, trânsito melhorou porque, com medo de enfrentar mais tumulto, cariocas voltaram mais cedo para casa

Quem saiu de casa ontem de manhã, enfrentou longos enfarrafamentos, causados não só pelo fechamento do Túnel Rebouças, mas também pelas fortes chuvas. O sofrimento dos motoristas foi medido pelos técnicos da CET-Rio. O índice de mobilidade dos veículos na cidade foi de 0,20, quando, normalmente, é de 0,56 às quartas-feiras. Isso significa que o carioca levou três vezes mais tempo do que em dias normais para chegar ao seu destino. A volta para casa foi mais calma: com medo do caos que aconteceu de manhã, muitos desistiram de sair após o almoço. Em algumas vias que costumam ficar engarrafadas, o tráfego foi anormalmente tranqüilo à tarde.

O economista Márcio Aché, de 60 anos, que mora na Gávea, foi um dos cariocas que enfrentaram o caos. Ele chegou a pegar um ônibus às 8h, para o Centro. Mas, três horas e meia depois, ainda estava no Humaitá, sem perspectiva de quando desembarcaria. Sem alternativa, desistiu no meio do caminho.

- Normalmente, da minha casa até o trabalho, levo 40 minutos. Desci no Humaitá, vi que não tinha mais jeito. Peguei um táxi e retornei para casam em apenas cinco minutos. Vi muitas pessoas andando nas ruas alagadas - disse ele.

Alertado pelo filho, o empresário Alberto Alves, de 75 anos, que mora no Cosme Velho, resolveu cancelar os compromissos. Ele deveria seguir para a Pavuna, onde trabalha, mas resolveu sair de casa apenas para ir ao médico. Mas o profissional, com medo do trânsito, suspendeu todas as consultas.

- A consulta seria às 17h - contou Alberto.

Alunos desistem de ônibus e voltam a pé para casa

Diante do trânsito parado, um grupo de estudantes do Colégio Santo Inácio, em Botafogo, após meia hora esperando ônibus para retornar para casa, voltou andando até o Leblon.

- Não tivemos alternativa. O ônibus não passava - disse Isabel Scorza, de 14 anos.

Já o fisioterapeuta Cesar Ribeiro, de 44 anos, com medo de ficar preso, cancelou os compromissos. Ele mora em Jacarepaguá e deveria chegar ao seu consultório, em Niterói, às 10h: - Vi pela televisão o caos que estava a cidade. Ia levar muito tempo até Niterói e a volta poderia ser ainda pior. Liguei para minha secretária e pedi para desmarcar os clientes.

A confusão no trânsito alterou também a agenda de autoridades. O governador Sérgio Cabral cancelou sua participação num evento, pela manhã, no Aeroporto do Galeão, onde se encontraria com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Cabral iria de helicóptero, mas foi aconselhado a suspender o vôo. De carro, seguiu para outro evento no Riocentro, aonde chegou com meia hora de atraso devido ao trânsito. O governador de São Paulo, José Serra, estava com viagem marcada para o Rio, onde assinaria convênios com o estado, mas, por causa das chuvas, suspendeu a agenda. O ex-deputado Paulo Pinheiro, por sua vez, levou cinco horas entre a Gávea, onde mora, e o Centro.

Os transtornos continuaram nos principais aeroportos do Rio. O Santos Dumont não abriu para pouso e decolagem. Por causa disso, 68 vôos foram cancelados e mais de 30 tiveram de ser desviados para o Aeroporto Internacional Tom Jobim, onde também ocorreram cancelamentos e atrasos. O colunista e editor do GLOBO Artur Xexeo tinha passagem marcada para São Paulo, às 10h50m. Por volta de 9h, ele tentou sair de casa, em Copacabana, mas não encontrou táxi para o Santos Dumont.