Título: PF prende aliado de Jucá e mais 31 em Roraima
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 26/10/2007, O País, p. 9

Coordenador da Funasa no estado comandaria grupo suspeito de fraudar programas de atendimento a indígenas

BRASÍLIA. A Polícia Federal prendeu ontem o coordenador da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Roraima, Ramiro Teixeira, e mais 31 servidores e empresários acusados de fraudar obras e programas sociais de atendimento aos ianomâmis e outros índios da região Norte do país. Teixeira foi indicado para o cargo pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). A organização é acusada de desviar R$34 milhões nos últimos cinco anos, com direcionamento de licitações e superfaturamento de contratos. Com três integrantes da organização, a PF apreendeu R$1,3 milhão em espécie.

Emendas da bancada seriam origem do dinheiro

A Polícia Federal suspeita que a organização, desbaratada na chamada Operação Metástase, contava com forte apoio político, mas não apontou quem seriam os envolvidos. Todas as verbas destinadas à Funasa de Roraima, alvo da cobiça da organização, tinham como origem emendas coletivas da bancada parlamentar do estado.

As emendas de bancada foram apontadas pela CPI dos Sanguessugas, ano passado, como um dos pontos do Orçamento da União mais vulneráveis à corrupção. Os parlamentares reservam os recursos e, depois, indicam as obras que gostariam de ver executadas.

- A investigação segue o dinheiro, desde sua origem, até o destino final. A origem eram emendas de bancada - afirmou um dos responsáveis pela operação.

A apuração sobre o suposto braço político da organização repercutiu no Congresso Nacional. Logo de manhã, Romero Jucá telefonou para o presidente da Funasa, Danilo Forte, e retirou o apoio a Ramiro Teixeira. Segundo um assessor de Jucá, o senador indicou Teixeira para o cargo por sugestão de colegas do partido da região Norte no início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, para Jucá, o agora ex-afilhado político pode não ter se comportado adequadamente à frente da Funasa em Roraima.

- Hoje ele (Jucá) ligou para o presidente da Funasa e disse que não tinha mais necessidade da indicação de Ramiro Teixeira - disse um auxiliar do senador.

A Polícia Federal começou as investigações da Operação Metástase há 18 meses, a partir de inquérito da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). No curso da apuração, a polícia descobriu ligações suspeitas do empresário Hissam Hussein Dehaini com irregularidades em aluguéis de aviões e helicópteros pela Funasa em Roraima. Hussein foi um dos alvos da CPI do Narcotráfico. Ao aprofundar a investigação, a polícia se deparou com fraudes em outros contratos de obras e serviços da Funasa. Vem daí o nome da operação.

- O tumor da corrupção apareceu num órgão, depois em outro e depois em outro - afirmou o delegado Alexandre Rumage, coordenador da operação.

Maior fraude em obra de saneamento em Boa Vista

Segundo a polícia, os acusados direcionavam editais, superfaturavam obras e recebiam recursos por serviços não executados. Uma das maiores fraudes teria ocorrido em obras de saneamento em Boa Vista. A organização teria cobrado também por viagens não realizadas a reservas indígenas. Aviões e helicópteros deveriam levar remédios e alimentos para as reservas. Mas os serviços só existiam no papel.

- Eles cobravam por horas de vôo não efetivadas. Seriam vôos para levar remédios para índios ianomâmis na fronteira. É um crime bem pior do que o valor monetário indica - afirmou o superintendente da PF em Roraima, Ivan Herrero.

As suspeitas sobre as fraudes em obras da Funasa de Roraima também foram reforçadas pelo grande volume de recursos recebidos pelo órgão. Pelos cálculos da PF, a Funasa de Roraima vinha recebendo o dobro de recursos que a Funasa do Amazonas, que tem um território dez vezes maior. Entre os presos estão, além de Ramiro Teixeira, mais oito servidores da Funasa. São funcionários da comissão de licitação e do setor financeiro. Também foram presos o dono de uma grande empreiteira e dono de uma empresa de táxi aéreo.

Foram 25 prisões em Roraima, duas no Amazonas e cinco no Paraná. Só na casa de um dos acusados, a PF apreendeu R$850 mil em espécie. Os acusados foram indiciados por corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, entre outros crimes.