Título: Renan desiste de presidência; começa disputa
Autor: Camarotti, Gerson e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 26/10/2007, O País, p. 10

Objetivo é salvar mandato e impedir que petista tome vaga do PMDB; José Maranhão e Garibaldi Alves são cotados.

BRASÍLIA. Licenciado da presidência do Senado desde o último dia 11, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) jogou a toalha e deu sinal verde para que o partido deflagre o processo de escolha de seu sucessor no cargo mais cobiçado da Casa. Convencido pelos aliados que não terá alternativa a não ser renunciar para tentar salvar o mandato, e diante dos temores cada vez maiores de seu partido de perder a vaga definitivamente para o senador Tião Viana (PT-AC), Renan autorizou o líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), a agilizar as consultas na bancada para tentar construir uma candidatura de consenso. O nome preferido de Renan e do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) é o do senador José Maranhão (PMDB-PB), mas Garibaldi Alves (PMDB-RN) desponta como uma alternativa capaz de unir os peemedebistas.

- Renan oferece ao PMDB a possibilidade de fazer seu sucessor, mas mandou dizer que quer uma saída para a saída dele - confidenciou um peemedebista.

Com o aval de Renan, Raupp sondou Tião Viana para tentar saber se ele estaria disposto a convocar eleição para a presidência do Senado antes da votação da proposta de emenda constitucional (PEC) que prorroga a CPMF. O líder peemedebista admitiu que a bancada está apreensiva com rumores de que o senador petista teria mandado fazer um levantamento dos gastos de senadores no ano passado e pudesse usar isso como arma numa possível candidatura à sucessão de Renan. Tião foi enfático na resposta:

- Essa vaga é do Renan e do PMDB. Não quero criar confusão, ainda mais sendo da base do governo. Com acordo, a eleição pode ser feita em uma semana. Qualquer que seja o candidato do PMDB, terá meu voto.

Renan quer fechar acordo

Renan chegou à conclusão de que, se não tomasse a iniciativa, o PMDB poderia perder o controle da situação na votação da CPMF, reduzindo suas chances de influenciar na escolha do sucessor. Renan quer a garantia de um acordo para evitar sua cassação em plenário. Um aliado na cadeira de presidente do Senado seria fundamental para isso.

O presidente licenciado foi alertado de que sua demora pode acabar contribuindo para consolidar Tião Viana no cargo. A desenvoltura do petista nas duas primeiras semanas como interino despertou ciúmes entre os peemedebistas, ainda mais quando souberam que ele estaria fazendo um levantamento dos cargos da presidência do Senado, perguntando de quem era cada indicação. Raupp mandou recado em tom de ameaça:

- Ouvi do PT que o cargo é do PMDB. Caso contrário, haverá clima de muito atrito no Senado. O PT, que é base, não faria isso (tentar ficar com a presidência do Senado) - advertiu.

Ele ironizou o sucesso do início de gestão de Tião Viana:

- Mandato curto é igual. Quem assume costuma dar uma arrancada. O tempo é curto e Tião tem que mostrar serviço.

A expectativa na cúpula do PMDB é que Renan renuncie ao cargo até o fim de novembro, quando acaba o prazo de licença de 45 dias, ou seja, antes da votação da CPMF.

O primeiro-secretário do Senado, Efraim Moraes (DEM-PB), publicou portaria determinando a abertura de sindicância para apurar a veracidade das afirmações do servidor Marco Santi, consultor legislativo, veiculadas na imprensa. Antes do primeiro julgamento de Renan no plenário, Santi se demitiu do cargo de adjunto da secretária-geral da Mesa do Senado, Cláudia Lyra, sob a alegação de que estaria recebendo pressões para ajudar na defesa do senador alagoano.