Título: Em Congonhas, madrugada de desordem, descaso e desrespeito
Autor: Doca, Geralda; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 29/10/2007, O País, p. 3

Cancelamentos sucessivos de vôos na última sexta-feira levam passageiros ao desespero.

SÃO PAULO. "Atenção, senhores passageiros, o vôo para Curitiba foi cancelado"; "o que ia para Maringá, também". "Atenção, há entre os passageiros do vôo para Florianópolis dez voluntários que aceitariam voar para Navegantes e, de lá, seguir de ônibus até o destino final?". "Desculpe, senhores passageiros, mas o ônibus com os senhores vai ter que voltar para a sala de embarque porque o avião ainda não está na pista. Nos enganamos".

Essas foram algumas das frases disparadas aos microfones das companhias aéreas na sala de embarque do subsolo do Aeroporto de Congonhas, sexta-feira à noite. O GLOBO acompanhou o desespero dos passageiros que se aglomeravam entre cadeiras, bagagens no chão e funcionários tentando conter os ânimos.

De 19h30m a 20h30m, foram feitos pelo menos quatro anúncios de vôos cancelados. A orientação aos passageiros era ir ao balcão de check-in. O grupo que seguia para Maringá ameaçou quebrar as instalações do aeroporto. Contidos, subiram a escada em direção a área de embarque.

Faltava pouco para 21h quando um grupo que ia para o Paraná encheu os dois ônibus que o levaria até o avião. Já na pista, os veículos deram meia-volta. A companhia se enganara, já que o avião que iria para aquele estado não havia pousado. O engano, porém, era maior. Os funcionários orientaram os motoristas para seguir para o lado oposto de onde estava o avião. Resultado: três minutos depois de voltar para a sala, foi feito um novo chamado para o embarque:

- O problema não é só o descaso das autoridades, mas o despreparado dessa gente. A impressão que eu tenho é que ninguém tem a menor noção do que está fazendo - reclamou Fernanda Almeida, que estava no grupo.

Um outro grupo de passageiros sofreu um pouco mais. O vôo 1395 da GOL, com destino ao Aeroporto Tom Jobim, estava programado para deixar São Paulo às 20h40m. O embarque começou às 22 h. Quase uma hora depois, o avião começou a taxiar. Foi em direção à pista e ficou na última posição de uma fila com outros aviões. Passageiros comemoravam.

- Até que enfim, até que enfim! - gritava um deles, batendo as mãos nas janelas do avião.

Os problemas, entanto, não haviam terminado. Às 23h02m, na cabeceira da pista, quase duas horas e meia depois do horário programado para o vôo, o piloto da aeronave pediu a atenção dos passageiros:

- Mais um absurdo de Congonhas, infelizmente não poderemos seguir viagem porque a torre de comando não autoriza decolagem em Congonhas depois das 23h.

O avião deu meia-volta.

Um senhor de cerca de 50 anos teve queda de pressão. "Algum médico a bordo, por favor?", pedia o comissário, enquanto um colega molhava a mão num copo d´água e esfregava no rosto do passageiro.

Os passageiros foram orientados a procurar a companhia. À meia-noite, uma fila formou-se em frente ao balcão de check-in. O grupo se dividia entre os que preferiam continuar em São Paulo e seguir para o Rio no sábado, e os que solicitavam transporte até o Aeroporto Internacional de Guarulhos. No balcão, seis funcionárias tentavam resolver a situação.

Aos que exigiam o pagamento do táxi para casa e de casa para o aeroporto, no sábado, a resposta: "O máximo que podemos fazer é pagar o táxi até sua casa. Amanhã, é por sua conta", diziam os funcionários. Após um princípio de rebelião, a empresa ressarciu os passageiros e, só por volta das 2h, acomodou alguns em hotéis. Os que preferiram seguir para Guarulhos embarcaram em ônibus cerca de meia hora antes. A companhia, até então, não tinha o horário do vôo que sairia de Guarulhos para o Galeão naquela madrugada.

A Infraero confirmou ontem que houve "alguns atrasos por excesso de tráfego aéreo" na sexta-feira à noite em Congonhas. Mas informou não haver registros em seus livros de problemas, como tumultos provocados por passageiros.