Título: É preciso aproximar as empresas dos centros de formação
Autor: Rodrigues, Luciana; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 29/10/2007, Economia, p. 19
Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann é um estudioso do mercado de trabalho e teve experiência em formular políticas para a área, quando foi secretário de Trabalho de São Paulo, na gestão da ex-prefeita Martha Suplicy. Ele vê na escassez de profissionais qualificados um "bom problema" e critica a fragmentação dos sistemas de treinamento. O Ipea fará um diagnóstico sobre a demanda por trabalhadores, que deve estar pronto em um mês.
Luciana Rodrigues
Há escassez de trabalhadores qualificados?
MARCIO POCHMANN: Estamos diante de um "bom problema". Até então, tínhamos um "mau problema", de excedente de mão-de-obra e escassez de emprego. Na verdade, continuamos com excedente de mão-de-obra. A taxa de desemprego está em 8,5% (a nível nacional). Antes, como a economia oscilava entre momentos bons e ruins, as empresas cresciam apenas ocupando capacidade ociosa. Agora, os investimentos têm crescido acima do PIB há 15 trimestres. As empresas estão modernizando seus processos, adotando novas tecnologias e, para isso, precisam de trabalhadores especializados. E, no excedente de mão-de-obra disponível, não há pessoas preparadas.
Esse é um problema que se resolve a curto prazo?
POCHMANN: Se o país continuar crescendo a um ritmo de 5%, essa situação deixará de ser conjuntural e se tornará estrutural. Temos que pensar em soluções estruturais. O primeiro ponto é que, no Brasil, é muito fácil demitir e contratar. As empresas não investem em treinamento. E o trabalhador, ao longo de sua trajetória, ocupa diferentes atividades. Trabalha uma hora na indústria, outra como trocador de ônibus. Por isso, também não investe em especialização.
Mas a legislação trabalhista não dificulta as demissões?
POCHMANN: Se isso fosse verdade, a taxa de rotatividade no setor privado não seria tão alta, de 44%: para cada 100 postos de trabalho numa empresa, 44 são renovados anualmente. Em outros países, essa taxa fica em 20%. Também é preciso ter um sistema de treinamento unificado. Hoje, as iniciativas são pulverizadas, com Sistema S, escolas técnicas e Ministério do Trabalho. E os recursos não são poucos: em percentual do PIB, gastamos mais de três vezes o que os EUA gastam.
A qualificação oferecida atende às necessidades das empresas?
POCHMANN: Este é um terceiro problema. É preciso aproximar as empresas dos centros de formação. Em países como Alemanha e Japão, o governo faz pesquisas que antecipam as demandas futuras por trabalhadores. Aqui, a qualificação é feita pela oferta de cursos e não pela demanda das empresas.