Título: Círculos difundem idéias de Chávez no Brasil
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Fonte: O Globo, 27/10/2007, O País, p. 17

Movimento tem apoio de militantes de PT, PDT e PSOL e vai fazer "assembléia bolivariana" no Rio, em dezembro.

BRASÍLIA. O Rio será palco, nos dias 8 e 9 de dezembro, do primeiro encontro brasileiro de seguidores do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. O evento tem nome pomposo - Assembléia Bolivariana Nacional - e vai reunir militantes dos chamados Círculos Bolivarianos, grupos de até 11 integrantes que defendem o governo de Caracas e a adoção do socialismo no país. Segundo reportagem publicada na quarta-feira pelo "Correio Braziliense", um emissário de Chávez, Maximilian Averlaiz, estaria percorrendo capitais brasileiras para articular o movimento. Organizadores do encontro negam a participação de estrangeiros e dizem que tudo é bancado por simpatizantes brasileiros.

De acordo com o "Correio", Caracas teria enviado um grupo de 15 diplomatas ao Brasil, inclusive um adido de inteligência, para reforçar a difusão das idéias de Chávez. Desde que chegou ao poder, em 1999, o venezuelano explora politicamente a imagem de Simon Bolívar, libertador dos países da América espanhola. Dois anos depois, ele passou a incentivar a criação dos Círculos Bolivarianos, que reúnem defensores fiéis do governo e hoje já chegam a 1.200 no país - a maioria em comunidades pobres, onde tem os maiores índices de aprovação.

Sete dos núcleos chavistas ficam no Rio

Os núcleos chavistas brasileiros são cerca de 20, e sete deles estão concentrados no Rio. Batizados com nomes caros à mitologia da esquerda latino-americana, como Fidel Castro, Che Guevara e Carlos Marighella, reúnem militantes de partidos como o PT, o PDT e o PSOL. Em documento divulgado na internet, os organizadores da Assembléia Nacional Bolivariana propõem a criação de uma ONG, a Associação Nacional pela Educação Popular e a Cidadania, para responder pelos "fins contábeis e financeiros" do movimento. O texto prevê a realização de congressos a cada quatro anos e diz que as manifestações poderão ser bancadas por "contribuições dos militantes, doações de pessoas e entidades jurídicas".

Fundador do Círculo Bolivariano Leonel Brizola, o professor de História Aurélio Fernandes, um dos principais líderes dos chavistas brasileiros, nega ligações com o governo da Venezuela e diz que o grupo rejeita a idéia de se transformar em partido político.

- Chávez defende os direitos dos venezuelanos mais pobres e, por isso, será reeleito várias vezes. Mas não o vemos como o guia genial dos povos - afirma Fernandes, que já foi candidato a vereador pelo PDT do Rio.

Procurada pelo GLOBO, a Embaixada da Venezuela não se manifestou sobre o suposto apoio aos círculos chavistas. Na semana passada, a representação diplomática do país deu um passo para fincar a bandeira do bolivarianismo em território nacional. O adido cultural Wilfredo Machado anunciou a doação de biografias de Bolívar às 624 escolas públicas do Distrito Federal. Odebrecht financiou livro com idéias de Chávez

Para a iniciativa, os chavistas contaram com a colaboração de dois inusitados aliados: o governador José Roberto Arruda, do DEM, e a construtora Odebrecht, que pilota obras no país vizinho e financiou a tiragem de 5 mil exemplares. A Secretaria de Educação do DF informou que a obra foi submetida ao crivo de educadores que não fizeram objeção pedagógica à doação.

No Rio, o site dos Círculos Bolivarianos Leonel Brizola - cuja marca traz uma foto de Che Guevara com uma rosa, símbolo do PDT - recomenda que um círculo reúna o mínimo de três e o máximo de 12 pessoas. Acima desse número, deve se formar um novo grupo.

Os bolivarianos brasileiros acreditam que Chávez é candidato ao posto de principal líder da revolução latino-americana quando Fidel Castro se for. Assim como Chávez, que define sua guerra contra "os poderosos" como uma "guerra de idéias", os bolivarianos do Rio acham que é preciso vencer a "pobreza política" para dar cabo da pobreza material.

Em entrevista ao GLOBO em fevereiro deste ano, Fernandes contou que já esteve na Venezuela e que os meios de comunicação de lá não mostram os supostos avanços obtidos por Chávez na saúde e na educação, sem criticar as posições populistas, o cerceamento à liberdade de imprensa e de opinião, o massacre à oposição, entre outros problemas.