Título: Banco Central troca 3 diretorias, em mudanças classificadas de rotineiras
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 27/10/2007, Economia, p. 36

Assuntos Internacionais, Fiscalização e Administração terão novos nomes.

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) anunciou ontem trocas de comando em três de suas oito áreas. Paulo Vieira da Cunha e Paulo Sérgio Cavalheiro deixarão as diretorias de Assuntos Internacionais e Fiscalização, respectivamente. Segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, ambos pediram para sair da instituição alegando motivos pessoais. Ele classificou as trocas como uma mudança rotineira no processo de evolução desses profissionais. Na avaliação do mercado, as substituições não provocam apreensão porque não atingiram áreas sensíveis, como as diretorias de políticas Econômica e Monetária.

A Diretoria de Administração, que vinha sendo comandada por Antônio Gustavo Matos do Vale, que acumulava o cargo de diretor de Liquidações e Desestatização, também terá novo chefe. Será indicado para o cargo Anthero de Moraes Meirelles, funcionário de carreira do banco que hoje ocupa a gerência de Administração Regional do BC em Belo Horizonte. Ele não tem parentesco com Henrique Meirelles.

Meirelles: "Todos foram minha primeira escolha"

Para a Diretoria de Assuntos Internacionais será indicada Maria Celina Berardinelli Arraes, também funcionária de carreira do BC que trabalha como coordenadora de planejamento e gestão estratégica do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Para área de Fiscalização, Meirelles vai indicar Alvir Alberto Hoffmann. Funcionário de carreira do BC, ele atua como especialista em fiscalização bancária no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ao anunciar os nomes, Meirelles negou que tenha encontrado dificuldade em trazer para o BC pessoas do mercado financeiro:

- Todos foram minha primeira escolha.

Vieira da Cunha, que entrou no BC em junho de 2006, alegou querer ficar mais perto da família, que mora dos Estados Unidos, segundo Meirelles. Mas especula-se que ele esteja insatisfeito em comandar uma área que perdeu espaço desde que o papel de captar recursos no mercado externo passou para o Tesouro Nacional. O economista ficará no cargo até janeiro e participará da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Cavalheiro, há 31 anos no BC, quer ter novas experiências profissionais, segundo Meirelles. Ele vai aguardar no cargo até que seu substituto seja confirmado. Os três nomes precisam receber aprovação do Palácio do Planalto e passar por sabatina no Senado Federal.

Com as novas trocas - que somam agora 14 na gestão de Meirelles, iniciada em janeiro de 2003 - o Copom terá agora oito votos. São sete diretores (Mário Mesquita acumula Política Econômica e Estudos Especiais) mais o presidente do BC na hora de definir as taxas de juros. Ao ser questionado sobre o que ocorreria em caso de empate na decisão, Meirelles riu:

- O presidente tem voto de Minerva.

Economista vê perfil técnico em nomes indicados

De acordo com a economista-chefe do BES Investimentos, Sandra Utsumi, embora sejam uma surpresa, as mudanças não vão provocar nervosismo no mercado financeiro. Ela afirmou que os indicados têm perfil técnico e são qualificados. Sandra explicou ainda que poderia haver algum tipo de tensão caso o BC tivesse feito trocas em áreas mais sensíveis, como na Diretoria de Política Econômica ou na de Política Monetária.

Este foi o caso das saídas, em março e abril, respectivamente, do então todo-poderoso diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua e do comandante da área de Política Monetária, Rodrigo Azevedo.

Sandra ressaltou, porém, que os analistas ficarão atentos às próximas reuniões do Copom para saber se houve mudanças na condução da política de juros no país.

- O mercado vai ficar bem atento a mudanças de votos na diretoria do Copom. Sempre há especulação sobre como ficará o placar na hora de definir a Taxa Selic - afirmou a economista