Título: Aécio diz que candidato tucano em 2010 terá de ter naturalidade
Autor: Moreira, Gabriela
Fonte: O Globo, 30/10/2007, O País, p. 3

Mineiro defende aproximação entre PSDB e PT e sugere que SP atrapalha.

ZURIQUE. O governador de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves, disse ontem que, depois de perder duas eleições presidenciais sucessivamente, o PSDB não pode se dar ao luxo de novas aventuras. O próximo candidato do partido à Presidência, segundo ele, vai ter que "demonstrar naturalidade eleitoral" e se mostrar capaz de "construir alianças".

Aécio, que disputa com o governador de São Paulo, José Serra, a indicação do partido, começou afirmando que o PSDB estará unido em 2010:

- Já apanhamos tanto, perdemos duas eleições seguidas. O PSDB não vai entrar em aventura. O candidato do PSDB vai ser o que demonstrar naturalidade eleitoral e capacidade de construir alianças.

E em seguida citou Serra e Geraldo Alckmin:

- Tivemos, em determinados momentos, candidaturas que não atingiram uma dose de naturalidade. Foram dois experientes candidatos, dois homens públicos dos mais preparados, o Serra e o Geraldo. Mas não eram os candidatos naturais - disse.

Serra, que está em Zurique no mesmo hotel que Aécio, participando do evento de anúncio da sede da Copa do Mundo de 2014, evitou o quanto pôde comentar as declarações do mineiro:

- Não vim até Zurique para falar de política!

Depois de uma hora de conversa com jornalistas em que discutiu tudo menos política nacional, Serra disse que só tinha três coisas a dizer:

- Primeiro, é muito cedo para falar em 2010. Segundo, o PSDB vai estar unido. Terceiro, dentro do PSDB, o Aécio e eu vamos estar juntos, como sempre estivemos.

Aécio insistiu em que não é candidato. E disse que seu objetivo é contribuir para a união do partido. Mas todo o seu discurso sobre os resultados de seu governo em Minas parecia se encaixar no que ele considera o perfil do candidato ideal para o PSDB. Um dos critérios para o bom candidato, além da "naturalidade eleitoral", é a capacidade de construir aliança.

Não por acaso, ele defendeu uma aproximação do PSDB com o PT. Para ele, "Lula repete Fernando Henrique" e os dois têm os mesmos aliados:

- Acho que ainda é possível, não sei se eleitoralmente já, uma aliança em torno de algumas questões que possam permitir que o PT e o PSDB estejam mais perto.

E sugeriu que São Paulo atrapalha essa aproximação, ao dizer:

- De alguma forma somos reféns da força dos nomes de ambos os partidos em São Paulo. A disputa pelo poder em São Paulo colocou (os dois partidos) em lados opostos

Sobre se em 2014 estará na Copa como torcedor ou em outro cargo, Aécio disse, sorrindo, que isso não depende dele, mas "das pessoas, do país". E acrescentou:

- Estou sempre disposto a ajudar a construir um grande projeto para o Brasil, projeto otimista que faça as pessoas voltarem a ter esperança e a acreditarem no futuro do país. O mundo está nos ajudando muito. É hora de o Brasil se ajudar. Quem sabe em 2014 vamos crescer a taxas muito mais vigorosas que esta. Vou estar nesse time. Não importa em que posição.

Para ele , o PSDB tem boas chances de vencer as eleições presidenciais, mas tem que se preparar para isso:

- Temos boas chances, até porque, depois de 40 anos, pela primeira vez vamos ter uma eleição direta sem Lula. Depois do Jânio, não tivemos nenhuma eleição direta sem o Lula. Só isso já é uma mudança extraordinária. Muda tudo.