Título: A banda podre é com elas
Autor: Guimarães, Ana Cláudia; Auler, Eduardo
Fonte: O Globo, 30/10/2007, Rio, p. 16

Mulheres são encarregadas de pagamento de propina.

Na rede de apoio ao tráfico, as ¿tias¿ do ¿arrego¿ (arreglo) exercem uma das funções mais arriscadas e delicadas: o contato com os policiais corruptos. A elas, os chefes do morro confiam a propina que deve ser repassada para evitar ações que prejudiquem seus negócios. Como os encontros são freqüentes, não há como evitar serem identificadas.

Nas suas mãos, passam informações importantes, como o dinheiro movimentado pela ¿boca-de-fumo¿ e o número de policiais envolvidos com o ¿arrego¿. Em setembro, a prisão de duas ¿tias¿ levou para a cadeia 73 policiais do batalhão da PM de Duque de Caxias.

Devido ao perigo, a função só é exercida por uma mulher em cada comunidade. Numa favela da Zona Oeste, a propina é paga por Juracir, de 38 anos, mãe de cinco filhos. Há cinco anos, ela vive do dinheiro dado pelo tráfico, geralmente R$50 por entrega. Viciada em crack, aguarda em casa as chamadas do chefe.

¿ Sei que não devia estar nessa vida, mas faço isso para sustentar meus filhos e comprar minhas drogas ¿ disse Juracir, que tenta esconder da família o envolvimento com o crime.

Para evitar riscos, Juracir procura ser discreta no contato com os maus policiais. Segundo ela, se deve evitar qualquer tipo de conversa com os agentes, já que é grande o risco de ser considerada traidora por qualquer um dos dois lados. Quando pode, prefere deixar o dinheiro escondido numa lixeira ou em outro local combinado anteriormente.

¿ Eles riem do dinheiro fácil que ganham, me sinto humilhada. Não sei se vou conseguir ter outra vida ¿ afirmou Juracir.