Título: Após fraude do leite, PF desmonta esquema de venda de queijo vencido
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Fonte: O Globo, 30/10/2007, Economia, p. 25

Governos e Procon aumentam a fiscalização aos produtores de todo o país.

BRASÍLIA, SÃO PAULO, RIO e PORTO ALEGRE. Depois da fraude do leite adulterado, a Polícia Federal fez ontem a descoberta de outro esquema criminoso, ao apreender, em Uberaba (MG), 16 toneladas de queijo mussarela com validade vencida. O produto era comprado em Goiás, reembalado e vendido a grandes supermercados do país com data de validade vencida ou próxima do vencimento. O dono da empresa está foragido. A região é a mesma em que foi descoberto o esquema do leite.

Governo e entidades de defesa do consumidor estão apertando o cerco aos produtores de leite do país. O Ministério da Agricultura anunciou que, para evitar uma relação próxima demais entre empresas e fiscais - o que pode levar a fraudes -, a partir da próxima semana, gradualmente, acabará a fiscalização permanente por apenas um fiscal nas 200 usinas de beneficiamento de leite. O controle será exercido por auditorias.

As equipes serão compostas por três fiscais federais (dois veterinários e um agente de inspeção sanitária), que deverão visitar as empresas sem aviso prévio - a meta é uma vez por mês. Haverá um período de transição entre os modelos.

- O sistema foi projetado para inibir fraudes como as detectadas em Minas - disse o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, na primeira manifestação sobre o caso.

A ação começa a ser implementada hoje em Minas e, gradativamente, em todo o país a partir da semana que vem. O foco será nos grandes produtores, que incluem ainda Goiás, São Paulo e Rio Grande do Sul. Outra decisão foi intensificar a coleta de amostras para análise. Pelo novo modelo, as fraudes serão encaminhadas ao Ministério Público, e as empresas, responsabilizadas criminalmente.

Stephanes fez questão de garantir a qualidade do leite consumido no país:

- Recomendo que o brasileiro beba leite, sem dúvida. Pode trazer aqui que eu tomo. - disse, admitindo surpresa pela adulteração. - Algumas dúzias de vigaristas criaram um sistema que conseguia mascarar as análises. A água oxigenada é volátil e você não a detecta.

A Fundação Procon e as secretarias da Saúde e da Agricultura e Abastecimento de São Paulo estudam uma ação de fiscalização em todas as usinas e cooperativas de leite no estado. Os órgãos aguardam as análises dos produtos coletados desde sexta-feira para deflagrar a operação, o que deve acontecer até o fim da semana. Até ontem, mais de 15 fiscais coletaram, na capital, pelo menos 45 amostras, que foram encaminhadas a laboratórios. Nenhuma, segundo o Procon, é de lotes bloqueados pela Anvisa (das marcas Parmalat, Calu e Centenário).

No Rio, a Secretaria de Estado de Saúde e Defesa Civil (Sesdec) informou que a Vigilância Sanitária começou a enviar para análise amostras de leite UHT. Não há, porém, previsão para a divulgação dos resultados.

Empresa que enterrou caixas foi multada em R$20 mil

No Rio Grande do Sul, o leite encontrado enterrado em duas fazendas tinha condições normais, segundo o Ministério da Agricultura. As amostras do leite, da Nutrilat, recolhidas em Fazenda Vilanova, foram analisadas em laboratório do governo federal, em Pedro Leopoldo (MG). Havia o temor de que o produto tivesse as irregularidades descobertas em Minas.

A Nutrilat foi multada em R$20 mil pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental, por dano ambiental, e tem dez dias para desenterrar as embalagens. Na semana passada, o Ministério da Agricultura condenou 725 mil caixas de leite avariadas da empresa. Segundo o assessor jurídico da Nutrilat, André Roberto Mallmann, são de um lote que caiu de um andaime. A empresa admitiu que 225 mil caixas foram enterradas. O restante teria sido destinado ao consumo animal.

A Vigilância Sanitária gaúcha vai analisar as 24 marcas de leite comercializadas no estado.