Título: Reação no comércio
Autor: Flores, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 17/04/2009, Economia, p. 13

BOLHA GLOBAL

Vendas nas lojas subiram 4,9% no primeiro bimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2008. Para coordenação do IBGE, resultado sinaliza pequena recuperação. Ainda não é possível comemorar

Após um trimestre de retração nas vendas em consequência da crise econômica, o comércio varejista reagiu em 2009 e deve fechar o ano com um crescimento acima do previsto para a economia brasileira, na opinião de especialistas. Pelo segundo mês consecutivo, os negócios aumentaram em relação ao mês anterior, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em fevereiro o incremento foi de 1,5%, e, em janeiro, de 1,8%. Em relação aos mesmos meses do ano passado os resultados também são positivos, mas estão desacelerando. No primeiro bimestre o volume comercializado foi 4,9% acima do verificado no mesmo período de 2008. Nos 12 meses acumulados até fevereiro o acréscimo foi de 8%, volume bastante positivo, mas inferior aos 9,1% registrados no período fechado de 2008 e aos 9,8% de outubro, quando os efeitos da crise começaram a ser sentidos no país.

¿O resultado anuncia uma certa recuperação após três meses de queda. Por outro lado, quando se compara com o ano anterior, as vendas estão em patamar mais baixo que antes da crise. O consumidor está mais cauteloso, sem saber o que vem pela frente¿, afirma o coordenador da pesquisa, Nilo Lopes de Macedo. Chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes arrisca previsões. ¿É um dado bom, que demonstra que a massa de salários ainda está segurando as vendas, mas não mostra uma tendência. A expectativa é de uma desaceleração. A massa real ainda vai declinar a ponto de levar o setor a fechar 2009 com um crescimento entre 2% e 3%, abaixo dos atuais 8%, mas, ainda assim, superior à previsão para a indústria e para a economia¿, afirma A previsão mais otimista para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro chega a, no máximo, 2%, variação prevista pelo governo federal. Os analistas de mercado ouvidos pelo Banco Central afirmam que o Brasil terá retração em sua produção. Já a indústria, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), deve encolher 2,8% em todo o ano de 2009.

Em relação a 2008, os setores que dependem do crédito são os que registraram os piores resultados, com exceção de calçados e vestuário, que venderam 5,7% menos. Neste caso, a análise é de que o efeito psicológico reduziu a demanda, mesmo com a manutenção da massa salarial. ¿Dezembro, janeiro e fevereiro foram meses difíceis. O efeito psicológico da crise levou à retração, mesmo o setor não dependendo do crédito. Mas a partir de março a demanda melhorou¿, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Aguinaldo Diniz.

Capital Essa opinião também é dividida pelo comerciante Olair Francisco, dono de uma rede de calçados com 35 lojas no Distrito Federal e 10 em Goiás. No primeiro trimestre a demanda nas unidades do estado vizinho foram 20% inferiores à dos três primeiros meses do ano passado. Na capital federal o resultado foi melhor: o faturamento foi igual ao de 2008. Mesmo assim, é o pior desempenho desde que o empresário começou a investir no setor, há 15 anos. ¿Estávamos crescendo em torno de 10% e 15% todos os anos. Agora estabilizamos. Acho que tem um efeito psicológico, as pessoas estão parando de comprar, com medo de se endividar¿, afirma. ¿Mas acho que já passamos o pior. Agora vêm as datas comemorativas, deve haver uma reação¿, espera.

Acrescentando os segmentos de veículos e de materiais de construção ao varejo, o que o IBGE define como comércio ampliado, o resultado para o bimestre reduz de 4,9% no bimestre para 2,2%. Na comparação com o mesmo bimestre do ano anterior, os dois segmentos amargam quedas de 0,1% e 12,7%, respectivamente. Mas estão reagindo, impulsionados pela ajuda governamental, que reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos dois grupos. A vantagem fiscal ajudou o setor de automóveis a empatar o resultado de fevereiro com o do mesmo mês de 2008. Até janeiro as vendas estavam piores, pelos números do IBGE. Em março, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores contabilizou uma produção de 272 mil carros, 34% mais que em fevereiro.

Os fabricantes de materiais de construção ainda não conseguiram se recuperar. O resultado de fevereiro foi 12,8% inferior ao de 2008. A melhora deve aparecer somente a partir de abril, mês em que entrou em vigor a redução do IPI para o segmento. ¿No primeiro bimestre tivemos uma queda muito acentuada. A redução do IPI deve ajudar a aumentar vendas, além do pacote habitacional e do aumento do crédito para a compra de materiais. Esse conjunto de fatores deve nos ajudar a vender entre 4% e 5% mais neste ano¿, aposta o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Melvyn Fox.