Título: Peronismo, a nova prioridade de Kirchner
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Fonte: O Globo, 30/10/2007, O Mundo, p. 29

Presidente se concentrará na reorganização do partido após terminar mandato, de olho nas eleições legislativas de 2009.

Do La Nación

BUENOS AIRES. É comum escutar Néstor Kirchner dizer que não sabe fazer outra coisa a não ser se dedicar à política. Dentro de 42 dias, ele deixará a Casa Rosada, mas está longe de abandonar o poder. Sua prioridade será, a partir de agora, o peronismo. Com a folga que lhe deu o resultado do fim de semana, Kirchner se prepara para imprimir no Partido Justicialista sua marca, segundo informaram ao "La Nación" dirigentes políticos próximos ao presidente.

Ontem, tudo era algazarra no bunker kirchnerista; o assunto era a nova etapa de Kirchner, desta vez fora do poder. O projeto da concertação plural que idealizou com setores do radicalismo, como o companheiro de chapa de Cristina, Julio Cobos, continuará de pé. Ainda é uma incógnita como o presidente materializará sua aspiração de reorganizar o PJ e o exército de seu pluralismo nascente.

Há apenas alguns dias, Kirchner disse que vai reorganizar o peronismo, desarticulado como tal nestas eleições. Assim prometeu a um grupo de 30 comissários. O presidente já havia falado longamente da idéia de modernizar os modelos partidários tradicionais. Ele já disse a amigos que não terá escritório na Casa Rosada.

Menos exposição para não ofuscar novo governo

Kirchner disse que ficará na residência de Olivos. Ali vai aprofundar seu exército político. Neste ano eleitoral, a concertação ajudou-o a somar vitórias que não foram totalmente suas. Mas sempre precisou do peronismo. E sabe disso. Por isso se reuniu com os comissários da província de Buenos Aires e lhes falou de "um peronismo atualizado". Não é outra coisa, para ele, senão a concertação que incluirá "reeditar o sonho de frente e concertador" de Juan Perón.

Os que mais o conhecem têm ouvido o presidente dizer que a concertação é o "início de algo mais amplo". Kirchner quer novos líderes, gente jovem, e a essa tarefa se dedicará sem descanso. Sabe que não tem muito tempo. Em dois anos o governo da mulher enfrentará as eleições legislativas. Para a ocasião, espera já ter mais consolidado o espaço de centro-esquerda que planeja. O que fará com o PJ? Seu inimigo número um, o ex-presidente Eduardo Duhalde, prometeu voltar à política para reorganizar o justicialismo. Não haverá lugar para os dois. Os comissários pediram eleições internas. O presidente acredita que, enfraquecido, o regresso de Duhalde à arena política não terá lugar privilegiado.

Em menos de dois meses, copiará o modelo de mídia que sua mulher adotou quando ele chegou ao poder: diminuir a exposição. Ninguém consegue imaginar que Cristina não lhe dê um espaço. Será, sem dúvida, seu maior conselheiro. Mas a Casa Rosada já descartou um "duplo comando". Em todo caso, um bom governo da mulher abre caminho para ele se candidatar à Presidência em 2011.