Título: Queda anunciada na Anac
Autor: Camarotti, Gerson; Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 31/10/2007, O País, p. 3

Jobim divulga demissão de Zuanazzi, que deve ser formalizada hoje com Lula.

Principal alvo das críticas na crise que levou caos aos aeroportos, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, deve entregar hoje seu pedido de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro com Lula foi o último gesto do governo para tentar dar uma saída honrosa ao presidente da Anac. Zuanazzi vinha tentando se manter no cargo, mas o ministro da Defesa, Nelson Jobim, desde sua posse, há três meses, não escondia que contava as horas para vê-lo fora da agência.

Zuanazzi resistia em pedir demissão, pois se sentia humilhado publicamente pelo ministro da Defesa. Chegou a avisar a assessores do governo que usaria o mandato para ficar no cargo. Para evitar constrangimento ainda maior, Lula deu sinal verde para o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, costurar os termos da exoneração. O martelo foi batido ontem. O presidente da Anac comunicou que deixaria o órgão para ocupar um cargo na iniciativa privada. De manhã, Zuanazzi recebeu o major-brigadeiro-do-ar Allemander Jesus Pereira Filho, nomeado para a diretoria da Anac. Na conversa, foi iniciada a transição.

- O Zuanazzi vai entregar a carta de demissão ao presidente Lula. É uma maneira de homenageá-lo. Ele é um homem de alto gabarito. Não pode sair chutado do governo - disse Mares Guia.

Ironicamente, coube ontem ao principal desafeto de Zuanazzi no governo a divulgação de que a demissão estava acertada.

- Tenho a informação do ministro Walfrido que amanhã (hoje) ele (Zuanazzi) se afastaria e levaria a carta ao Palácio do Planalto - afirmou Jobim, no início da tarde.

Reunião de cúpula foi sem Zuanazzi

A movimentação para tornar pública a demissão de Zuanazzi começou de manhã. Jobim reuniu a cúpula da administração da aviação civil, sem o presidente da Anac. O pretexto do encontro seria definir medidas preventivas para o aumento de vôos que tradicionalmente ocorre entre 1º de dezembro e 15 de março. Estavam na reunião, no gabinete do ministro, o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, e dois novos diretores da Anac, Marcelo dos Guaranys e Allemander Pereira Filho.

Guaranys nem sequer tomou posse. Após o encontro, Jobim explicou por que não convidou Zuanazzi:

- Estamos num momento de substituição. Nós temos que trabalhar com quem vai para o futuro e não com quem fica no presente.

A versão oficial é que Zuanazzi só sairia quando já houvesse no mínimo três novos diretores da Anac, o que aconteceu agora. Nos bastidores, ele mandou recados ao governo de que estava disposto a enfrentar Jobim. Nos dois últimos meses, dois ministros passaram a atuar para fazê-lo mudar de idéia: a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e Mares Guia, padrinhos da indicação dele para a presidência da agência. Na reta final, o ministro assumiu o comando das negociações. O presidente da Anac fora secretário Nacional de Política de Turismo quando Mares Guia era o titular do Ministério do Turismo.

Com a vaga de Zuanazzi livre, finalmente deve ser indicada a economista e secretária de Aviação Civil, Solange Paiva Vieira, para o cargo de diretora-presidente da Anac. Ontem o presidente da República em exercício, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), assinou a nomeação de Marcelo Pacheco dos Guaranys e Alexandre Gomes de Barros. Os nomes foram aprovados semana passada pelo Senado.

Na reunião, Jobim exigiu que os órgãos de controle da aviação civil forneçam aos passageiros informações sobre vôos, horários de saída e atrasos. Um dos participantes sugeriu a aplicação de multas às empresas. Para o ministro, a punição não é suficiente. Ele entende que os órgãos de controle têm de multar as empresas e repassar informações aos passageiros.