Título: Distância da família
Autor: Guimarães, Ana Cláudia; Auler, Eduardo
Fonte: O Globo, 31/10/2007, Rio, p. 18

Das 24 estrangeiras presas, uma não responde por tráfico.

A busca pela liberdade durou somente uma semana para a portuguesa Rute Isabel Marques dos Santos. Para a jovem de 23 anos, a viagem que mudaria sua vida terminou numa prisão no Rio. Incentivada por amigas que minimizaram o perigo, ela assumiu os riscos para receber cinco mil euros (R$12 mil) levando três quilos de cocaína para Portugal.

¿ Tenho um filho e precisava de dinheiro. Minha mãe não tem renda e eu piorei a situação da minha família ¿ disse Rute, que trabalhava como garçonete em Lisboa.

Um ano e sete meses depois, ela só teve um contato com a família. Aconteceu logo após a prisão, na delegacia da Polícia Federal no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Num telefonema rápido, quis avisar a mãe sobre a prisão, mas ela já sabia. Não tinha palavras para justificar o que tinha feito ¿ para os parentes, estaria na Inglaterra.

¿ Só tive a preocupação de falar que não fui presa por ter matado alguém. Ela ainda tentou me apoiar, disse que eu ia conseguir superar isso. Estava envergonhada. Depois, não tive mais notícias de ninguém ¿ disse Rute.

Para as estrangeiras, a distância da família torna mais árdua a permanência no cárcere. Sem opção, procuram se manter unidas, apesar da dificuldade de comunicação ¿ há internas da Tailândia, do Canadá, dos EUA, da África do Sul, da República Tcheca, de Portugal e da Colômbia. Das 24 presas, só uma não responde por tráfico.

¿ O momento mais difícil é no horário da visita. Seu nome nunca é chamado. Paro e penso no meu filho, tento imaginar como ele está ¿ afirmou a portuguesa.