Título: Kirchner prevê o melhor governo
Autor: Solá, Joaquim Morales
Fonte: O Globo, 31/10/2007, O Mundo, p. 34

"Washington Post" põe em dúvida capacidade de evitar nova crise

BUENOS AIRES. No primeiro ato oficial que compartilharam após a eleição de domingo, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, afirmou que a futura administração de sua mulher, Cristina, vai ser "o melhor de todos os governos" desde a volta da democracia em 1983.

- Creio que a Argentina entra numa etapa de aprofundamento das mudanças. Não uma quebra, mas a continuidade das mudanças - disse Kirchner, observado pela primeira-dama, num ato na Casa de Governo para o anúncio de obras na província de Buenos Aires.

O presidente brincou com o seu próprio futuro:

- Ontem perguntaram a Cristina "o que vai fazer com Néstor Kirchner?" Vou a um café literário - disse, entre gargalhadas, o presidente, que antes já havia brincado com a sua condição de "primeiro-damo", como ele próprio definiu.

Tanto Kirchner como Cristina afirmaram nos últimos dias que o atual presidente não abandonará a vida política. Ele é apontado como o principal conselheiro da presidente eleita, que já trabalha na transição e na formação da futura equipe. Na residência de Olivos comenta-se que a ordem para os ministros atuais é trabalhar como se fossem "continuar após a mudança de governo". Cristina estaria elaborando um plano com "cinco primeiras medidas".

Um Gabinete muito semelhante ao do marido, segundo fontes

Sabe-se que Cristina já tem definida a maior parte do futuro Gabinete, que não se diferencia muito da equipe de Kirchner. Na área de Planejamento, o ministro Julio De Vido se concentrará em atenuar possíveis problemas energéticos no verão - num indício de que deverá permanecer no cargo pelo menos por alguns meses. A primeira-dama está preocupada também em acelerar um novo sistema de medição da inflação. Cristina gostaria de assumir com o método já depurado.

Buscando deixar um cenário fiscal melhor para a esposa, Kirchner deve adotar medidas concretas, que podem incluir retoques pequenos e graduais nas tarifas de gás e energia elétrica e acelerar as negociações com o Clube de Paris para renegociar a dívida.

Mas nem assumiu e Cristina já recebe críticas. O "Washington Post" pôs ontem em dúvida sua capacidade em evitar nova crise. Em editorial, acusou a Argentina de não aprender com a História e Kirchner de manipular índices inflacionários e pressionar mercados a manterem os preços baixos durante a campanha. Segundo o jornal, Cristina tem que decidir entre "dar o remédio amargo que a economia necessita ou seguir as políticas populistas do marido até que se produza outra crise econômica".

Somente ontem o presidente dos EUA, George W. Bush, telefonou para Cristina para felicitá-la pela vitória. Para analistas, o modo como ela vai conduzir as relações internacionais vai determinar se conseguirá conciliar as relações amistosas com Washington e a aliança com o governo da Venezuela, de Hugo Chávez.