Título: Recomeço no México
Autor: Vaz, Viviane; Queiroz, Silvio
Fonte: Correio Braziliense, 17/04/2009, Mundo, p. 20

Diante do colega mexicano, Felipe Calderón, Barack Obama deixou claro que está realmente disposto a ajudar no combate ao narcotráfico e à violência em escalada na fronteira entre os dois países. Em visita à Cidade do México, o presidente americano não só repetiu o ¿mea-culpa¿ sobre a responsabilidade dos EUA como maior mercado consumidor de drogas, feito por Hillary Clinton há menos de um mês. Também garantiu que pedirá ao Senado a aprovação de um tratado interamericano contra o tráfico de armas na região. Em clima de ¿recomeço¿ das relações, Obama e Calderón assumiram o compromisso de trabalhar juntos para conter a violência na fronteira e a imigração ilegal, e discutiram sobre Cuba, tema que deverá emergir a partir de hoje na Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago.

¿Em um momento em que o governo mexicano tem combatido de forma tão corajosa os cartéis que importunam os dois lados da fronteira, é absolutamente crucial que os EUA sejam parceiros integrais nesse assunto¿, disse Obama após uma reunião de mais de uma hora com o colega na residência oficial de Los Pinos. O presidente americano reconheceu que Washington compartilha a responsabilidade pelos sequestros e mortes na divisa entre os dois países, já que a grande demanda por drogas nos EUA e a falta de um controle mais rígido no fluxo de armas contribuem para o aumento da criminalidade. ¿Não vou fingir que essa é uma responsabilidade só do México¿, afirmou.

Armas O mandatário americano declarou que não tentará restabelecer a proibição da venda de armas de uso militar ¿ que vigorou nos EUA entre 1994 e 2004. Ele se comprometeu, no entanto, a ampliar a aplicação de leis existentes que proíbem a transferência de tais armas através da fronteira, como a Convenção Interamericana (Cifta), firmada em 1997, mas não ratificada pelo Senado americano.

Calderón recebeu com animação o anúncio. Segundo as autoridades mexicanas, quase 90% das 16 mil armas apreendidas no país nos últimos dois anos procediam dos EUA. ¿Que se aplique a legislação existente para proibir a exportação de armas aos países onde elas são ilegais¿, disse. Mas, apesar dos temas espinhosos e das recentes respostas atravessadas, o anfitrião tentou demonstrar a disposição em ¿recomeçar¿. ¿Obama, iniciemos uma nova era em que trabalhemos pelo desenvolvimento sustentável e pela prosperidade do nosso povo, que nossa fronteira seja um exemplo de produtividade e segurança. O México precisa dos investimentos dos EUA e os EUA requerem a força de trabalho dos mexicanos¿, destacou, antes da reunião.

Para o pesquisador da American Enterprise Institute (AEI) Philip Levy, contudo, o clima amigável só deve durar se as mudanças forem além das palavras. ¿A administração Obama falou de planos para anular a proibição sobre o trânsito de caminhões (mexicanos nos EUA), bloquear o fluxo de armas para o México e tratar a questão da imigração. Tenho certeza de que os mexicanos estão ansiosos para saber como e quando esses planos serão executados¿, destaca Levy.

O especialista em História da América Latina Anthony Knopp, da Universidade do Texas, também prefere a cautela quando se trata da relação entre fronteiras: ¿Existe boa vontade tanto do lado de Obama como de Calderón, mas ambos enfrentam a hostilidade de forças políticas internas a qualquer solução que afete seus interesses¿.