Título: Zuanazzi deixa a Anac com ataques a Jobim
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 01/11/2007, O País, p. 9

A CRISE CONTINUA: "Não querem que o pobre viaje de avião, reclamam que aeroporto é rodoviária", afirmou

Ex-presidente da agência diz que o ministro não entende de aviação e ironiza promessas de acabar com o caos aéreo

BRASÍLIA. Depois de três meses de pressão para que deixasse o cargo, Milton Zuanazzi renunciou ontem à presidência da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) com duras críticas ao ministro da Defesa, Nelson Jobim. Numa entrevista de duas horas, Zuanazzi acusou Jobim de adotar medidas temerárias que podem resultar no aumento do preço das passagens aéreas. Para ele, o ministro da Defesa faz parte de uma elite que não quer ver pobre em aeroporto.

A presidência da Anac deverá ser entregue à economista Solange Vieira, já indicada para o cargo por Jobim.

- Estou saindo porque não gostaria de trabalhar com ele (Jobim). Ele está propondo um conjunto de restrições temerárias.Temo que haja uma redução da oferta e um aumento de preços e que isso impeça as pessoas mais simples de voar. Não querem que o pobre viaje de avião, reclamam que aeroporto é rodoviária - disse Zuanazzi.

Em carta entregue ao presidente Lula, Zuanazzi disse que a pressão exercida por Jobim para que deixasse o cargo não era compatível com a função de um ministro da Defesa.

Jobim começou a pedir a exoneração de Zuanazzi no fim de julho, logo após assumir a Defesa. Para o ministro, a antiga diretoria da Anac, toda ela já afastada das funções, era símbolo do apagão aéreo. Afilhado político do ministro Walfrido dos Mares Guia, Zuanazzi resistiu às investidas de Jobim até anteontem. Com receio do desgaste, Lula e Mares Guia pediram que Zuanazzi deixasse o cargo.

"A situação vai melhorar no Brasil a curto prazo? Não"

Antes de sair, Zuanazzi fez um balanço positivo de sua atuação e apontou supostas contradições de Jobim. Para ele, um dos primeiros erros do ministro foi cobrar das empresas o aumento do espaço entre as poltronas dos aviões. Outra falha teria sido ameaçar reduzir a oferta de vôos num momento em que o país assiste ao crescimento da demanda pelo transporte aéreo. Segundo ele, as declarações indicam que Jobim nada entende de aviação e de economia:

- Discutir tamanho de assento é aumentar preços. Adoraria viajar em um assento de primeira classe. Mas há que se pagar.

Zuanazzi ironizou a promessa de Jobim de acabar com filas e atrasos nos aeroportos brasileiros até março de 2008. Segundo ele, o enfrentamento com os controladores de vôo está aparentemente resolvido. Mas outros problemas estruturais não deixarão a crise terminar tão cedo. Hoje, a média de atrasos e cancelamentos de vôos está entre 8% e 12%:

- Por que não se consegue baixar (essas taxas)? Essa é a questão, o resto é proselitismo político. Não conseguimos porque não temos os equipamentos necessários. A situação vai melhorar no Brasil a curto prazo? Não.