Título: CPI do Apagão Aéreo livra ex-dirigentes da Infraero
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 01/11/2007, O País, p. 10

A CRISE CONTINUA: Mantido indiciamento de Denise Abreu.

Governistas trabalham pela pizza; oposição se retira.

BRASÍLIA. Instalada para apontar os culpados pelo caos nos aeroportos, a CPI do Apagão Aéreo terminou ontem de forma melancólica, numa sessão marcada por bate-boca e protestos de cinco senadores da oposição, que abandonaram o plenário antes do fim do debate. Manobra da bancada governista livrou o deputado Carlos Wilson (PT-PE), presidente da Infraero entre 2003 e 2006, do relatório final da comissão. Ele era acusado pelo relator Demóstenes Torres (DEM-GO) de ser o "chefe da quadrilha" responsável por irregularidades na reforma de aeroportos controlados pela estatal.

O texto original, que pedia o indiciamento do petista por fraude em licitações, improbidade administrativa e formação de quadrilha, foi mutilado por um voto em separado do senador João Pedro (PT-AM). Após a saída da oposição, o novo documento foi aprovado rapidamente, por seis votos a um.

Outros oito acusados de irregularidades pelo relator escaparam de ser indiciados pela CPI, entre eles três ex-dirigentes da Infraero demitidos por determinação da Controladoria Geral da União: José Wellington de Moura, Fernando Brendaglia e Márcia Chaves. Abandonada pelo governo, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu, que renunciou no fim de agosto, foi mantida no relatório. Ela teve o indiciamento pedido por falsidade ideológica, fraude processual e improbidade administrativa.

A CPI recomendou a abertura de investigações contra 16 pessoas. Frustrado, Demóstenes Torres acusou os colegas de "apanhar as sardinhas e livrar os tubarões":

- Só ficaram os pés-de-chinelo. Sendo presidente da Infraero e tendo assinado todos os atos, ou ele (Wilson) era chefe da quadrilha ou tinha o desenvolvimento mental retardado.

João Pedro diz que não há provas contra Carlos Wilson

No voto aprovado em plenário, João Pedro classificou o relatório original de "politizado e apelativo" e disse não haver provas contra Wilson. Depois da vitória, o petista declarou estar "com a consciência tranqüila":

- A decisão não é minha, é da CPI. Todos conhecem o deputado Carlos Wilson como homem público. Discordo peremptoriamente que ele seja o comandante de uma quadrilha.

Em tom de constrangimento, o vice-presidente da CPI, Renato Casagrande (PSB-ES), admitiu que a derrubada do relatório passará à opinião pública "impressão de impunidade", mas disse que as irregularidades na Infraero continuarão a ser investigadas pelo Ministério Público e Tribunal de Contas da União:

- Em toda CPI se estabelece um conflito entre o governo e a oposição, que acaba deixando o relatório perneta, manco.

Antes de deixar o plenário, os cinco parlamentares do DEM e do PSDB se revezaram ao microfone para reclamar da derrubada do relatório. Exaltado, Mário Couto (PSDB-PA) deu murros na mesa e disse que rasgaria o diploma de senador caso votasse pelo livramento de Carlos Wilson. Tasso Jereissati (PSDB-CE) acusou os colegas de promover "uma grande encenação para encobrir a corrupção". Presentes à sessão, os líderes dos dois maiores partidos da bancada governista no Senado, Valdir Raupp (PMDB-RO) e Ideli Salvatti (PT-SC), foram econômicos nas palavras: apoiaram o relatório substituto sem criticar o texto original ou defender o ex-presidente da Infraero.