Título: Infraero pede que passageiros evitem feriadões
Autor: Franco, Bernardo Mello; Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 01/11/2007, O País, p. 11

A CRISE CONTINUA: "Como falhamos na última vez porque não fizemos comunicado, estamos tomando essa providência"

Funcionários de Congonhas e Guarulhos iniciam operação-padrão; greve pode se estender a outros aeroportos.

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, fez ontem um apelo para que os brasileiros abram mão de pegar aviões em horários de pico até o carnaval de 2008. Ele disse que uma decisão dos passageiros pode reduzir as filas nos aeroportos e os transtornos provocados pelos constantes atrasos em pousos e decolagens. Segundo Gaudenzi, o pedido foi motivado pelos problemas registrados no fim de semana do GP Brasil de Fórmula-1, em São Paulo, há quase 15 dias:

- Como nós falhamos na última vez porque não fizemos um comunicado antecipado, estamos tomando essa providência para que os problemas não se repitam. O que estamos pedindo é que os passageiros tenham atenção. Quem puder viajar quinta (hoje) e voltar na segunda, deve fazer essa opção.

Gaudenzi espera resultados já neste fim de semana

Apesar de ter decidido se pronunciar a apenas dois dias do feriado de Finados, o presidente da Infraero disse acreditar que o pedido produza efeitos positivos já neste fim de semana. Ele citou o próprio exemplo para dizer que muitos passageiros ainda não teriam reservado suas passagens.

- Eu não comprei ainda, vou comprar amanhã - disse Gaudenzi, que pretende viajar a Buenos Aires, para um seminário sobre aviação.

O presidente da Infraero pediu ainda que os passageiros cheguem com antecedência aos aeroportos, e disse o período que vai desta semana até o carnaval será de grande movimentação nos saguões e balcões de companhias. No entanto, ele disse que a situação será mais tranqüila em relação ao ano passado:

- Vai ser um período de aeroportos cheios. E é claro que, com aeroportos cheios, sempre há uma taxa de desconforto.

Para o feriado de Finados, a preocupação de Gaudenzi tem mais um motivo imediato: os funcionários da Infraero nos aeroportos de Congonhas e Guarulhos, em São Paulo, iniciaram ontem uma operação-padrão como protesto contra o descumprimento, pela Infraero, de um acordo coletivo que previa reajuste salarial de 6,5% para a categoria. A operação-padrão vai até meia-noite da próxima terça-feira, quando os funcionários ameaçam entrar em greve por tempo indeterminado.

Até lá, os funcionários também não farão mais horas extras, o que deve acarretar problemas nas áreas de operações, de segurança, de cargas e na torre de comando. Há possibilidade de novos transtornos para os passageiros. A paralisação pode se estender para outros aeroportos. O comando de greve realizou ontem assembléias em Congonhas e Guarulhos. Hoje, os funcionários se reúnem no aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). O movimento foi anunciado à Infraero para cumprir a lei de greve, que exige aviso com 72 horas de antecedência.

O Sindicato Nacional dos Aeroportuários (Sina) pretende reduzir em 70% o número de funcionários, mantendo só 30% dos serviços, como obriga a lei. Os funcionários do Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, reúnem-se também hoje de manhã para decidir se vão acompanhar o movimento. Também estão sendo organizadas reuniões em Recife, Fortaleza e Brasília.

Sérgio Gaudenzi disse não acreditar que a ameaça de operação-padrão nos aeroportos de São Paulo se concretize. Ele informou ter decidido, em reunião ontem com o Departamento de Controle das Estatais, cumprir o acordo fechado pela gestão anterior da Infraero e pagar os 6,5%.

À noite, o diretor do Sindicato dos Aeroportuários Francisco Lemos confirmou o acerto com a Infraero em relação ao reajuste de 6,5%, mas disse que há outro problema: a Infraero ameaçou cortar um vale-alimentação de Natal (20 tíquetes de R$22). Por isso, ele garante que a operação-padrão vai até terça-feira, como acertado nas assembléias.

A redução do número de funcionários deve prejudicar os passageiros em todo o país. Ontem, por causa da assembléia dos funcionários, havia enormes filas no saguão de embarque do aeroporto de Guarulhos. Muitos funcionários deixaram seus postos para acompanhar a discussão em torno da greve.

À noite, mais filas e atraso de duas horas em Guarulhos

Algum vôos atrasaram por causa da demora na inspeção das bagagens nos aparelhos de raio-x. A presença dos funcionários na assembléia fez com que apenas um aparelho funcionasse de manhã. À noite, em Guarulhos, também já havia atraso de duas horas em alguns vôos por causa das filas no setor de embarque. Cerca de 1,8 mil pessoas trabalham em Guarulhos. Já em Congonhas, o número de funcionários chega a 400. Os 2 mil funcionários do Tom Jobim, no Rio, deverão aprovar o movimento grevista.

Francisco Lemos, do Sina, negou que o movimento de greve tenha ligação com a demissão de Zuanazzi da Agência Nacional de Aviação Civil.

- Não há relação nenhuma com essa saída. A nossa luta é salarial - argumentou.

De acordo com Gaudenzi, a redistribuição da malha aérea deve ser anunciada em até 15 dias, e seguramente reduzirá as filas nos próximos meses.