Título: Petrobras banca o custo da troca de gás por óleo combustível em SP
Autor: Novo, Aguinaldo; Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 01/11/2007, Economia, p. 26

O GARGALO É NOSSO: Abegás defende regulamentação própria para o setor.

Entidades afirmam que corte trouxe insegurança para novos investimentos.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Maior distribuidora de gás canalizado do país, a Comgás, de São Paulo, anunciou ontem que negociou com um "grupo restrito de clientes" a redução de até 1 milhão de m de gás comprado diariamente da Petrobras. Segundo a empresa, controlada pela britânica BG, o acordo "evita litígios" e poupa cortes aos consumidores residenciais e do pequeno comércio em São Paulo. As empresas que fazem parte desse grupo - cujos nomes não foram divulgados - vão substituir gás por óleo combustível, cabendo à Petrobras assumir os custos da substituição. A Comgás compra diariamente 3 milhões de m da estatal, 10,7 milhões do gasoduto boliviano e mais 650 m da subsidiária boliviana da BG.

A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) considerou os cortes da Petrobras uma medida "arbitrária e unilateral". Para o vice-presidente da associação, Davidson de Magalhães Santos, eles são conseqüência da falta de uma política específica para o segmento no Brasil, visto como reserva do setor de energia elétrica:

- O gás hoje, além de ter um mercado próprio, serve de backup para o setor elétrico.

Governo federal descarta apagão de energia

Apesar de o corte de gás pela Petrobras não ter afetado o consumidor final em São Paulo, a secretária estadual de Saneamento e Energia, Dilma Pena, lembrou que muitas indústrias, como a de cerâmica, foram induzidas a adotar o gás como combustível, por ter um custo mais baixo e ser uma opção ambientalmente mais correta.

- Por isso, a diretora (de gás e energia da Petrobras) Maria das Graças (Foster) nos garantiu que qualquer corte no fornecimento ao estado será avisado com antecedência - afirmou.

O diretor do Departamento de Infra-estrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Saturnino Sérgio da Silva, disse que a decisão da Petrobras caracteriza um racionamento de gás. Segundo ele, a redução reforça a insegurança entre os empresários para definir novos investimentos.

Para o presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, as restrições no fornecimento servem como alerta e dão sinal negativo para empresas interessadas em usar o gás, mais barato e menos poluente, como combustível.

- Há também prejuízo para as indústrias que fizeram investimentos na substituição de equipamentos para queimar gás - disse o executivo.

A crise do fornecimento do gás levou o governo a convocar o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, para reunião ontem no Palácio do Planalto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, além do ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner. A avaliação é que a culpa pela falta de gás foi das distribuidoras, que venderam mais insumo do que tinham contratado. O governo descartou um desabastecimento de energia.

COLABOROU Mônica Tavares