Título: Brasil cai para 72º lugar em competitividade
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 01/11/2007, Economia, p. 27

País perde 6 posições em ranking do Fórum Econômico Mundial, prejudicado por burocracia, corrupção e impostos.

SÃO PAULO. O Brasil continua se distanciando dos líderes na corrida entre as economias mais competitivas do planeta. O Relatório de Competitividade Global 2007-2008, divulgado ontem pelo Fórum Econômico Mundial (FEM), mostra que o Brasil perdeu seis posições, passando do 66º posto, em 2006, para o 72º no ranking que este ano analisou as economias de 131 países. No ano passado, o país já havia caído nove posições - era o 57º em 2005.

Os Estados Unidos continuam sendo a economia mais competitiva, seguidos de Suíça, Dinamarca, Suécia e Alemanha. Na América Latina, o Chile permanece o país mais competitivo, na 26ª posição. O México (52º) e a Colômbia (69º) também estão à frente do Brasil.

Feito a partir da análise de mais de uma centena de variáveis essenciais à capacidade de competir dos países, agrupadas em 12 áreas, o estudo do Fórum constata que o Brasil não consegue superar antigas deficiências. E as fragilidades persistem na esfera institucional e na confrontação dos indicadores econômicos com os de outros países.

Problemas como o excesso de burocracia, a corrupção, a elevada carga tributária e a falta de confiança nos governos, no legislativo e no judiciário continuam minando a capacidade competitiva brasileira na opinião de 131 executivos de grandes empresas ouvidos na pesquisa. O resultado é que, pelo terceiro ano consecutivo, o país perde terreno nessa área e aparece com a 104ª pior nota no quesito Instituições Públicas.

- A notícia não devia ser que o Brasil caiu novamente (no ranking), mas que falhou novamente em avançar nessas áreas essenciais - diz o economista Xavier Sala-i-Martin, da Universidade de Columbia (EUA), um dos formuladores do Índice Global de Competitividade.

Brasil fica ainda mais distante de China e Rússia

Para Sala-i-Martin, a incapacidade do governo de combater a corrupção no setor público compromete a gestão macroeconômica. Embora reconheça que o país fez avanços no campo macroeconômico, com a estabilização de preços e gestão mais eficiente das contas públicas, o estudo constata que esses ajustes estão longe de garantir posição confortável. Mesmo com a inflação na faixa de 4,2%, por exemplo, o Brasil fica no 61º lugar nesse quesito. A queda por dois anos dos juros também não livrou o país da vexaminosa 126ª posição nesse item.

- Temos o segundo maior spread bancário do mundo, só ganhamos de Zimbábue - diz Carlos Arruda, professor de inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral, que coleta os dados no Brasil para a elaboração do ranking do FEM.

Arruda ressalta que o Brasil consegue uma posição intermediária no ranking pelo fato de ter grande mercado (o país aparece em 10º). O fato de ter uma indústria moderna, inserida nas cadeias produtivas globais, e ser grande exportador também ajuda. Graças a isso está na 39ª posição em Sofisticação Empresarial, e na 44ª em Inovação.

A queda no ranking aumentou a distância do Brasil em relação aos outros três países com grande potencial de crescimento, os Brics. Rússia e China ganharam uma posição: ocupam o 58º e 34º postos, respectivamente. E a Índia, que perdeu seis posições (caiu para 48º), continua bem à frente do Brasil. Procurados, os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento e a Casa Civil não se pronunciaram.