Título: Perdigão: CVM investiga insider em compra
Autor:
Fonte: O Globo, 01/11/2007, Economia, p. 29

Cotação e volume movimentado pelas ações da empresa e da Eleva subiram em outubro.

RIO e SÃO PAULO. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investiga a possibilidade de ter havido uso de informação privilegiada ¿ operações feitas de posse de informações que ainda não são públicas, chamada de uso de inside information ¿ na compra da Eleva Alimentos pela Perdigão. Os termos da operação foram anunciados na terça-feira.

As ações da Eleva vinha subindo consistentemente desde julho, quando se valorizaram 20,20% frente a uma queda de 2,15% do Índice Bovespa (Ibovespa), principal indicador da Bolsa de São Paulo. No mesmo mês, as ações da Perdigão caíram 5,33% e, nos 18 primeiros dias de outubro, subiram 9,88%, enquanto o Ibovespa subiu 1,48%. No dia 18 de outubro, as duas empresas comunicaram ao mercado que estavam estudando uma ¿eventual fusão¿.

Chinês passará a ser terceiro maior acionista da Perdigão

O volume movimentado também chama a atenção. A Eleva, que movimentava cerca de R$200 mil por dia até agosto, chegou a mobilizar R$1,824 milhões em um único dia de setembro, no dia 17. Já a Perdigão, com média de R$25 milhões negociados por dia até agosto, movimentou uma média de R$36,5 milhões por dia nos dias anteriores ao primeiro anúncio. Procurada, a Perdigão não se pronunciou sobre o assunto. Nenhum representante da Eleva foi localizado pelo GLOBO.

A operação, que envolve pagamento em dinheiro e troca de ações, vai levar a mudanças na atual composição societária da Perdigão. A família do empresário chinês Shan Ban Chun, controladora da gaúcha Eleva, passará a ser a terceira maior acionista da Perdigão, com uma participação de 7,4%. A Previ (fundo de pensão do BBl), que detém hoje 15,68% do capital, ficará com 14,16% depois da troca de ações entre as duas empresas. Já a participação da Petros (Petrobras) cairá de 12,04% para 10,87%. Abaixo da família Chun, virá a Sistel (sistema Telebrás), com 4,6%.

O presidente da Perdigão, Nildemar Secches, afirmou ontem que essa participação foi uma das condições colocadas pelos controladores da Eleva para fechar a operação, cujo valor total chega a cerca de R$1,7 bilhão, considerando o atual preço das ações. Desta cifra, a Perdigão se comprometeu a pagar em dinheiro R$773,7 milhões, que serão obtidos através de uma nova emissão pública de ações da Perdigão. Esta etapa do negócio deve ser fechada até o fim do ano. Depois disso, Secches prevê que a troca de ações entre as duas empresas seja concluída até o início do próximo ano.

A Perdigão aguarda agora a autorização da CVM para fazer a nova emissão de ações no mercado. Também comprará ações dos minoritários da Eleva, pelo mesmo preço pago aos sócios majoritários (R$25,8162443 por ação). Ontem, enquanto as da Perdigão caíram 1,10%, as da Eleva subiram 7,7%. Segundo Felipe Cunha, analista da Brascan Corretora, a operação pareceu cara para a Perdigão. Já as ações da Eleva estariam subindo para se aproximar do valor proposto pela Perdigão por ação. Ontem, fecharam a R$24,75.

Secches não quis falar sobre sinergia, alegando o chamado ¿período de silêncio¿ que precede as emissões de ações. Mas disse que as empresas não teriam ¿muitas sobreposições¿. A Eleva havia pedido à CVM registro de oferta de ações em agosto, que deve ser cancelado.

A Eleva controla a Avipal (carnes) e a Elegê (lácteos). Com a aquisição, a Perdigão passa a ser a maior empresa do segmento de carnes de frango e suínos no país, à frente da rival Sadia. Além de fortalecer sua posição no mercado de carnes de frango e suínos, a Perdigão avançará no setor de laticínios, onde já é dona da Batávia e controla a produção das marcas de margarina da americana Unilever.