Título: BC americano reduz juros de novo, para 4,5%
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Fonte: O Globo, 01/11/2007, Economia, p. 29

Fed cita riscos de inflação, levando mercado a duvidar de outro corte. Economia cresceu 3,9% no 3º trimestre

WASHINGTON e BRASÍLIA. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduziu ontem em 0,25 ponto percentual, para 4,5%, a taxa básica de juros dos Estados Unidos, com o objetivo de estimular a economia, que vem sofrendo com a desaceleração do mercado imobiliário. Mas o comunicado do Fed sugere que pode não haver novos cortes no futuro.

A decisão, que se seguiu a um corte de 0,5 ponto em setembro, já era esperada por analistas, mas, mesmo assim, animou os investidores: o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subiu 1%, o Nasdaq, 1,5% e o S&P, 1,2%.

Em seu comunicado, o Fed afirmou que os riscos de inflação já contrabalançavam o perigo de uma redução do crescimento. Isso, aliado ao voto do presidente do Fed de Kansas, Thomas Hoenig - o único a defender a manutenção dos juros -, reduziu as expectativas de futuras reduções.

A posição do Fed foi reforçada com a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) do terceiro trimestre, que registrou crescimento anualizado de 3,9%, contra 3,8% no período anterior. Foi a maior taxa desde o primeiro trimestre de 2006, quando o PIB avançou 4,8%. Analistas ouvidos pela Reuters esperavam expansão de 3%.

Para analista, haverá mais pressão sobre o petróleo

A expansão foi puxada por gastos dos consumidores e fortes exportações, ajudadas pela desvalorização do dólar frente a outras moedas. Os gastos cresceram 3% e as vendas externas, 16,2%. Temia-se uma retração do consumo, como resultado da crise de crédito decorrente das hipotecas de alto risco (subprime), o que não ocorreu. Como fatores de pressão inflacionária, o Fed citou "as recentes altas nos preços de energia e commodities". Ontem o barril petróleo bateu outro recorde, passando de US$94.

- Os cortes de juros são contraproducentes - disse à CNN Haag Sherman, diretor-gerente da Salient Partners, divisão do banco de investimentos Sanders Morris Harris Group. - Quanto mais se corta as taxas, mais o dólar se deprecia, e maior a pressão sobre preços de commodities como petróleo e ouro.

Após o fechamento dos mercados, o ouro ultrapassou os US$800 no pregão eletrônico. A onça-troy (31,1g) fechara a US$792,50, em alta de 1,36%. Já o euro atingiu seu quarto recorde consecutivo: US$1,4503.

O Fed também alertou que "o ritmo da expansão econômica vai desacelerar a curto prazo, refletindo, em parte, a intensificação da correção no mercado imobiliário". Detalhes sobre a decisão serão conhecidos em 8 de novembro, quando o presidente do Fed, Ben Bernanke, depuser na Comissão Econômica do Congresso.

Meirelles diz que decisão deve afetar cotação do dólar

O presidente do Banco Central (BC) brasileiro, Henrique Meirelles, afirmou ontem que a decisão do Fed afeta o dólar no mundo todo, e não apenas no Brasil. Ele ponderou, no entanto, que o objetivo principal do Fed não é mexer no câmbio, mas sim controlar a inflação nos EUA:

- O Fed tomou a decisão que afeta principalmente o dólar em relação a todas as moedas.

Com os juros menores nos EUA, os investidores estrangeiros procuram melhor remuneração em mercados emergentes, como o Brasil, cuja taxa de juros é de 11,25% ao ano, uma das mais altas do mundo. Com mais moeda estrangeira entrando, a tendência é que o dólar continue recuando frente ao real (ontem, encerrou a R$1,737).

Meirelles evitou fazer previsões de como a decisão do Fed pode afetar o Brasil, mas ressaltou que a economia está "sólida e vai muito bem".