Título: Novo comando do PT será problema para Lula
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 04/11/2007, O País, p. 10

Governo acredita que burocracia partidária deve criar obstáculos para o presidente escolher seu sucessor em 2010.

BRASÍLIA. A estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus auxiliares é tratar a sucessão no PT apenas como uma questão interna do partido e não como parte das articulações políticas no cenário nacional. Mas a disputa pelo comando do partido já acendeu uma luz amarela no Palácio do Planalto. A avaliação feita no núcleo do governo e no próprio PT é de que, seja qual for o resultado da eleição do novo presidente e de novos diretórios, em dezembro, a burocracia partidária passará a ser um obstáculo aos planos do presidente Lula para 2010. Não um obstáculo intransponível, mas um problema a mais para Lula administrar.

Partido poderá restringir opções de Lula para sucessão

O receio de alguns governistas é que Lula passe a ter restrições para escolher o candidato a sua sucessão. A percepção é de que a futura cúpula do partido não dará carta branca ao presidente para trabalhar o nome de seu sucessor. Pelo contrário. Sem ter conseguido emplacar a candidatura do assessor da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, para o comando do PT, Lula confidenciou a interlocutores próximos que perdeu o controle do partido e que isso poderá lhe provocar aborrecimento.

- Agora o presidente Lula decidiu ficar fora da disputa - afirma o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).

No Planalto, já se trabalha com vários cenários, dependendo do resultado das eleições. Em todos há restrições, em maior ou menor grau, à influência de Lula no partido. Disputam o comando do PT o atual presidente, deputado Ricardo Berzoini (SP), aliado do ex-ministro José Dirceu; e os deputados Jilmar Tatto (SP), apoiado pelo grupo da ministra do Turismo, Marta Suplicy; e José Eduardo Cardozo (SP), com o apoio do ministro da Justiça, Tarso Genro.

Numa análise feita semana passada no Planalto, o pior dos cenários seria a vitória de Jilmar Tatto. No governo, a percepção é de que ele representa o grupo paulista que quer voltar a ter influência no Planalto e que faria de tudo para enfrentar o próprio Lula, rumo a 2010.