Título: PSDB ameaça romper acordo sobre CPMF
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 05/11/2007, O País, p. 4

Debate sobre 3º mandato de Lula incomoda tucanos, que decidem amanhã em reuniões como votarão no Senado.

BRASÍLIA. Cada vez mais incomodado com o debate promovido por aliados do governo para garantir um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), um dos tucanos que estavam à frente das negociações sobre a prorrogação da cobrança da CPMF, ameaça interromper o diálogo com o governo e levar sua bancada a votar contra a proposta de emenda constitucional (PEC).

O Palácio do Planalto terá pouco tempo para contornar essa crise com os tucanos, cujos votos são essenciais para a aprovação da CPMF. Virgílio convocou um almoço com a bancada tucana para amanhã, quando a executiva nacional do partido também deverá tentar unificar o discurso sobre o assunto numa reunião marcada para as 19h.

- Vamos votar os 13 senadores para um lado ou para o outro. Se a votação da CPMF fosse hoje, nosso voto seria contra. As respostas do governo no campo político são péssimas e no campo econômico, nada concretas. Estou disposto a detonar o acordo e acabar logo com essa brincadeira. E não achem que vou permitir que a bancada saia rachada - avisou Virgílio.

"Até agora, não vi o presidente tomar atitude"

O líder tucano não disfarça sua irritação especialmente com a falta de uma reação mais contundente de Lula em relação à iniciativa de um de seus amigos mais próximos, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), de levar adiante a tramitação de uma PEC que garantiria ao presidente disputar um novo mandato em 2010.

- Só um idiota não vê, e eu não sou um idiota, que está em curso uma manobra para garantir um terceiro mandato para Lula. Até agora, não vi o presidente dizer que tem nojo disso nem tomar alguma atitude para impedir essa articulação. Mesmo porque todo dia tem um aliado dele defendendo essa idéia - acrescentou.

Essas divergências no campo político podem comprometer as negociações em curso para garantir a prorrogação da CPMF. Ainda mais que o governo não conseguiu detalhar como pretende implementar o acordo que começou a ser alinhavado com os tucanos na semana passada em dois almoços promovidos pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A equipe econômica ficou de decidir algumas desonerações tributárias para compensar a prorrogação da cobrança da CPMF.

- Não pensem que vão conseguir nosso apoio só com essa promessa de incrementar o orçamento da saúde com apenas mais R$4 bilhões. A saúde precisa de muito mais dinheiro e de imediato. Sem um redutor de gastos, uma garantia de corte da alíquota e desonerações substantivas para compensar a CPMF, não votaremos a favor - insistiu Virgílio.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) tem uma posição ainda mais radical do que Virgílio. Na sua opinião, o partido não deveria sequer ter iniciado a negociação com o governo.

- Se depender de mim, vamos votar todos contra a CPMF e encerrar as negociações com o governo. Acho que não podemos deixar de tomar uma posição na terça-feira (amanhã) - defendeu.

Para evitar um racha no partido, já que os governadores tucanos são francamente favoráveis à prorrogação da CPMF e a bancada da Câmara pressiona os senadores do partido a votarem contra, o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), começou um processo de consulta informal como forma de se preparar para a reunião da executiva amanhã.

- A proposta do governo tem de ser ampliada e ter mais visibilidade. Não devemos ter pressa nesse assunto. Temos de refletir com tranqüilidade, ouvindo todos e tomando uma decisão boa para o PSDB - disse o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), que deverá suceder a Tasso Jereissati no comando do partido até o fim do mês.

Enquanto uma parte do PSDB considera que a melhor estratégia para a oposição neste momento seria desorganizar a vida do governo - que teria de se reestruturar sem o reforço de caixa de R$160 bilhões que a CPMF lhe garantirá pelos próximos quatro anos - outra está preocupada em não prejudicar a vida administrativa dos governadores do PSDB. De olho na sucessão de Lula, Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) não gostariam que o partido promovesse qualquer turbulência no cenário econômico, ainda mais que estão contando com vultosos investimentos previstos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Governadores dependem de investimentos federais

Com sérias dificuldades financeiras, os governadores de Alagoas, Teotônio Vilela, e do Rio Grande do Sul, Yêda Crusius, também dependem de investimentos federais para garantir a realização de qualquer obra em seus estados. Sob o risco de ter o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, não está em condições de comprar briga com ninguém. A avaliação é de que, se esses cinco governadores efetivamente resolverem arregaçar as mangas, poderão influir sim na decisão da bancada tucana no Senado. Virgílio, porém, nega que eles estejam empenhados em aprovar a CPMF.

- A mim, os governadores não estão pressionando. Tem seis dias que não falo com nenhum deles. O PSDB não é o PT, que tem um chefe. Aqui somos todos iguais - disse o líder tucano.