Título: A violência que se repete
Autor: Pontes, Fernanda; Dutra, Marcelo
Fonte: O Globo, 05/11/2007, Rio, p. 10

Jovens detidos por agredir prostitutas na Barra; outros três são mortos na Baixada.

Barra da Tijuca, 1h30m de domingo. Após passarem parte da noite bebendo num shopping, três estudantes de classe média decidem se divertir esvaziando um extintor de incêndio em cima de prostitutas e travestis que faziam ponto na Avenida Lúcio Costa. Acabaram detidos. No mesmo horário, em São João de Meriti, na Baixada, três rapazes foram mortos a tiros após expulsos de uma casa noturna, onde um deles teria se envolvido numa briga por causa de uma garota. É a violência que se repete na noite, onde jovens são os protagonistas.

Embora de menor gravidade, o episódio da Barra lembra a agressão sofrida, em junho, pela doméstica Sirlei Dias, espancada por cinco jovens do bairro, que alegaram ter confundido a vítima com uma prostituta.

Ontem, os rapazes da Barra foram flagrados por um engenheiro que passava pela via e avisou a polícia. Na 16ª DP (Barra), Fernando Mattos Roiz Júnior, de 19 anos, estudante de jornalismo; Luciano Filgueiras Monteiro, de 21, estudante de Engenharia; e um menor, de 17 anos, admitiram ter feito uma ¿molecagem¿. Eles responderão em liberdade por crime de perturbação do trabalho ou sossego alheio. Porém, segundo o delegado titular Carlos Augusto Nogueira, os três serão indiciados por injúria real, com pena de três meses a um ano de prisão. Ele acrescentou que também será investigada a informação de que o extintor fora furtado do condomínio onde mora um deles. Nesse caso, eles responderiam por furto qualificado, com pena de dois a oito anos de prisão.

Duas prostitutas estiveram na delegacia para denunciar o crime. Elas contaram que os rapazes estavam num carro e pararam. Quando se aproximaram, eles lançaram o pó do extintor em cima das duas, que estavam no ponto de ônibus na altura do condomínio Riviera Dei Fiori.

¿ Eles fizeram essa palhaçada em vários pontos da avenida. Levamos o maior susto. Teve gente que no desespero caiu no chão e acabou se machucando. Isso é um absurdo. Volta e meia somos agredidas com ovos podres e até garrafadas ¿ contou o travesti, que se identificou como Carla.

Pai achou que foi coisa de criança

Para o pai de Fernando, porém, os três jovens não fizeram nada demais:

¿ Tem gente que faz coisa pior. Foi apenas uma brincadeira de crianças. Qualquer um já passou por isso quando adolescente. Não entendo porque os jornalistas estão interessados nessa história ¿ disse ele, que também se chama Fernando.

Uma garota de programa que estava no grupo foi ao hospital, ontem de manhã, porque sentia dor nos olhos. Ela contou que já foi agredida diversas vezes por rapazes na Barra.

¿ Outra colega nem foi à delegacia porque teve falta de ar e ficou com o rosto todo vermelho. Espero que eles tenham aprendido a lição ¿ disse a jovem, de 18 anos, que tem um filho.

A ação dos agressores foi vista por um engenheiro, que passava de carro com a namorada e dois filhos. Indignado, ele seguiu o carro dos rapazes e telefonou para a polícia. Soldados do 31º BPM (Barra) detiveram o carro dos jovens na Avenida das Américas.

¿ O que esses garotos estavam fazendo é uma violência. São uns desocupados. Fiquei tão revoltado que os segui até que a PM os prendesse. São uns animais, mereciam uns tabefes ¿ disse o engenheiro, que foi à delegacia se apresentar como testemunha.

Os agressores disseram estar arrependidos.

¿ Fizemos uma coisa errada. Pedimos desculpas a elas lá fora. Mas não agredimos ninguém. Somos diferentes daqueles caras que agrediram uma mulher por que acharam que era prostituta. Não bebemos, nem estamos drogados ¿ disse Fernando.

Segundo o delegado, só esta semana foram registrados outros três casos envolvendo quatro jovens da Barra. Eles estão presos.

A MISSA DO JOVEM MORTO EM RAVE na página 12