Título: Leite: pouco gasto com segurança
Autor: Carvalho, Jailton de; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 05/11/2007, Economia, p. 21

Governo só usou 3,7% do previsto em qualidade alimentar, diz ONG.

BRASÍLIA e RIO. O Programa de Segurança e Qualidade de Alimentos e Bebidas, destinado a garantir a qualidade dos alimentos do brasileiro, como o leite, foi deixado em segundo plano pelo Ministério da Agricultura. A dois meses do fim do ano, o governo investiu apenas 3,7% dos recursos previstos para o programa este ano. Tabela divulgada pela organização não-governamental Contas Abertas mostra que, dos R$22,5 milhões do programa, o ministério empenhou apenas R$839,4 mil. O ministério promete mudar, a partir de hoje, o sistema de fiscalização do leite.

Até sexta-feira, a fiscalização era setorial. Cada fiscal era destacado para fiscalizar determinados laticínios. Ele permanecia na empresa, quase como um funcionário do laticínio. A partir de agora, o trabalho será feito por equipes de três fiscais, e não apenas um. Os fiscais vão trabalhar em revezamento.

A fiscalização e os programas de controle de qualidade dos alimentos do ministério foram postos em xeque após a Operação Ouro Branco, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, em Uberaba. A polícia descobriu que Coopervale e a Casmil, de Minas Gerais, misturavam soda cáustica e água oxigenada ao leite. Entre os clientes das cooperativas, Parmalat e Nestlé.

O secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, contestou os números obtidos pelos Contas Abertas. Segundo ele, o ministério promoverá nos próximos dias um pregão de R$12 milhões para custear despesas com análises de alimentos.

- Vamos gastar muito mais que esse dinheiro aí (R$22,5 milhões). Esses números divulgados não estão atualizados.

Secretário do Rio: fraudador sofisticou seus métodos

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, tem dito, desde o início do escândalo, que o golpe do leite não tem relação direta com deficiências da fiscalização. Para ele, a fraude foi uma ação criminosa, que poderia ter ocorrido mesmo se a fiscalização fosse rigorosa. Segundo a polícia, a adição de soda cáustica e água não aparece nos testes laboratoriais sobre a qualidade do leite. A fórmula teria sido criada por um químico paulista, identificado até agora como Pedro, que trabalhava para a Coopervale e para mais nove cooperativas em Minas e São Paulo. Dez empresas estão sob investigação.

Na avaliação de Christino Áureo, secretário de Estado de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior do Rio, os órgãos de fiscalização devem redobrar a vigilância e se modernizar:

- Os fraudadores estão sofisticando seus métodos. Portanto, o sistema de fiscalização precisa se atualizar.

Segundo Rodolfo Tavares, presidente da Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado do Rio (Faerj), o consumidor deve ficar atento a selos de inspeção, marcas tradicionais e prazos de validade.