Título: Cada dia com sua fila
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 02/11/2007, O País, p. 3

Caos em aeroportos de SP ontem foi provocado por operação-padrão de servidores da Infraero.

Chegar até a sala de embarque do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, foi tarefa árdua para os passageiros que tentavam embarcar ontem em vôos internacionais. Uma "operação-padrão" deflagrada pelos funcionários da Infraero fez com que os passageiros enfrentassem longa espera até a inspeção das bagagens, já no raio-x. A fila, que ultrapassou os limites da área de contenção, cortava quase todo o terminal 1, e muitas pessoas enfrentaram até uma hora e meia de transtorno até chegar o embarque. No fim da tarde, a Justiça mandou suspender a operação-padrão.

Com a operação-padrão, os funcionários se negavam a fazer horas extras, o que implicava a redução do número de aparelhos de raio-x em funcionamento. A confusão em Guarulhos começou cedo. Por volta das 8h, apenas dois dos quatro equipamentos estavam operando na área internacional. A fila chegou à porta de saída.

Às 16h, quando começou a troca de turno dos funcionários da Infraero, só um aparelho de raio-x era usado na inspeção de bagagem. A fila chegou a meio quilômetro. Os aeroportuários adotaram a operação para pressionar a Infraero, que se nega a pagar um bônus de Natal à categoria (22 tíquetes de R$22). O esquema levou o aeroporto de volta ao caos, em meio à crise aérea que dura mais de um ano.

"Imagem do país é prejudicada"

A médica Waleska Santos, que seguia para Seul, na Coréia, monitorava pelo telefone celular a situação de sua mãe, Gilda Trindade, que tentava, naquele mesmo horário, embarcar no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, rumo a Porto Alegre.

- Por conta do caos aéreo, sempre antecipamos as viagens em 24 horas, para não ter problemas - disse ela, na fila há 40 minutos.

Por telefone, Gilda disse que havia ficado mais de uma hora dentro de uma aeronave da Gol, à espera da decolagem para Porto Alegre.

- Depois que os passageiros não agüentavam mais de sede e calor, eles (a companhia) nos levaram de volta para o embarque, sem orientação a respeito do vôo - disse Gilda.

Ao chegar a Guarulhos no fim da tarde, alguns passageiros ameaçavam cancelar as viagens programadas para o feriadão de Finados. O empresário Francisco Santos lamentou o tratamento dado aos passageiros.

- O ministro da Defesa (Nelson Jobim) tem uma grande tarefa, mas me parece que ele não chegou nem no meio do caminho para resolver esse caos aéreo, o que prejudica a imagem do empresariado brasileiro no mercado internacional - disse ele.

Por volta das 19h, a situação em Guarulhos começou a ser normalizada, com a suspensão da "operação-padrão". O diretor do Sindicato Nacional dos Aeroportuários, Francisco Lemos, disse que a operação fora suspensa porque a Infraero havia se comprometido a conversar com a categoria na próxima segunda-feira.

Embora mais tranqüilo, o Aeroporto de Congonhas também registrou percalços. A chuva interrompeu as operações no terminal entre 18h23 e 18h30. Até às 18h, dos 145 vôos em Congonhas, nove registraram atraso de mais de uma hora e 17 foram cancelados. Em Guarulhos, dos 144 vôos até o fim da tarde, 12 atrasaram e quatro foram cancelados.

No Rio, não houve confusão

No Rio, o movimento nos aeroportos Antônio Carlos Jobim e Santos Dumont foi normal. As máquinas de raio-x funcionaram normalmente e não houve registro de grandes filas. De acordo com a Infraero, até as 20h, 20 (14%) dos 143 vôos previstos para o Tom Jobim estavam com atrasos superiores a uma hora. Outros 13 (9,1%) foram cancelados. No Santos Dumont, o panorama foi normal. Dos 80 vôos previstos, 10 (12,5%) sofreram atrasos e 12 (15%) foram cancelados.