Título: Senadores apóiam escárnio de Cunha Lima
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 02/11/2007, O País, p. 8

Líder do PSDB chega a dizer que paraibano mostra "espírito grandioso" ao optar ser julgado por júri popular.

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Mesmo após o deputado Ronaldo Cunha Lima (PSDB-PB) renunciar ao mandato para não ser julgado no Supremo Tribunal Federal por tentativa de homicídio, pelo menos 12 senadores se solidarizaram com ele. Cunha Lima abriu mão do foro privilegiado que o protegeu nos últimos 12 anos como última estratégia para fugir de uma possível condenação. Há 14 anos, então governador da Paraíba, ele entrou em um restaurante de João Pessoa e deu três tiros no seu antecessor, Tarcísio Burity. Com a renúncia, o processo agora volta para a Justiça comum, na Paraíba. O ministro do Supremo Joaquim Barbosa chamou a manobra de Cunha Lima de escárnio.

Primeiro a se solidarizar na tribuna foi Cícero Lucena

Da tribuna, o senador Cícero Lucena (PSDB-PB), que ingressou na política pelas mãos de Cunha Lima, anteontem foi o primeiro a se solidarizar com o amigo e conterrâneo.

- O Senado é testemunha da integridade insuperável e da profunda sensibilidade humana que são marcas da vida do homem e do poeta. Dolorosamente foi traído em algum momento da sua vida pela dramaticidade de um gesto e de uma circunstância. Testemunhei eu próprio a dor que o fato lhe causou, a marca que lhe deixou na alma, tão profunda que o tempo não cicatrizou. Ronaldo sangra até hoje - lamentou.

Foi a deixa para que outros senadores se solidarizassem com o ex-colega de Senado.

- A notícia da renúncia do deputado Ronaldo Cunha Lima me pegou de surpresa, e eu custei a entender as razões nobres que a motivaram, porque o meu primeiro ímpeto foi lamentar o que pode ser a perda momentânea da convivência com uma figura tão encantadora e de tanta riqueza humana. A grande verdade é que essa renúncia, mais uma vez, mostra o espírito grandioso de Cunha Lima, porque ele pretende mesmo é ser julgado pelo júri popular. Abriu mão do que chamam uns de foro privilegiado e que eu prefiro, de maneira moderada, chamar de foro especial - salientou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

Marcelo Crivella (PRB-RJ) fez questão de elogiar a iniciativa de Cícero Lucena em homenagear Cunha Lima da tribuna:

- Gostaria apenas de expressar minha profunda tristeza. Sei que Ronaldo Cunha Lima, o governador, senador, deputado, servidor do povo, amigo de todos, já enfrentou, na vida pública, tantos agravos, injúrias e calúnias que nos lançam os ódios e as paixões inerentes à vida parlamentar, hoje se vê na situação de renunciar a um mandato que o povo lhe deu. Quero solidarizar-me com Vossa Excelência, esperando que o nosso deputado possa encontrar, nesse exílio que se auto-impõe, os momentos mais sublimes da sua alma como estadista e, na planície, como dizemos, forças também para vencer mais essa etapa da sua trajetória.

Suplicy fez questão de expressar "apreço"

Embora o gesto de Cunha Lima tenha levado alguns petistas na Câmara a ironizar a ética tucana, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não escondeu sua simpatia pelo ex-deputado:

- Gostaria de expressar também este sentimento de apreço por ele. Certamente, ele tem também esse sentimento por parte do povo da Paraíba.

Um dos poucos a propor uma reflexão, mesmo assim sobre o foro privilegiado, foi Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).

- O gesto do deputado Ronaldo Cunha Lima é importante até para demonstrar que realmente essa questão da imunidade parlamentar e do foro privilegiado tem de ser repensada e revisada - sugeriu.