Título: Sindicalistas ganham no grito e com ameaças
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 02/11/2007, O País, p. 10

Manifestantes impedem debate e hostilizam autor da emenda; relator muda de idéia e mantém imposto obrigatório.

BRASÍLIA. O que era para ser uma audiência pública com debatedores pró e contra a emenda que acaba com a contribuição sindical obrigatória virou uma assembléia com agressões, xingamentos e ameaças. Depois do confronto físico entre um grupo de menos de 20 servidores favoráveis ao fim do imposto e centenas de sindicalistas que lotaram o auditório do Senado, o relator da matéria na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), Paulo Paim (PT-RS), mudou de opinião e deu o fecho final: anunciou que não botará em seu relatório "uma só vírgula" contra o movimento sindical.

A senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), relatora da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), também concordou em manter a cobrança da contribuição sindical. Está prevista para quarta-feira uma sessão conjunta de CAS, CCJ e Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) para a votação de um parecer único retomando a proposta original do governo de legalizar as centrais sindicais, manter o imposto e criar alternativas para o futuro.

Na CAE, o relator é o senador Francisco Dornelles, que também já se manifestou favorável ao pleito dos sindicalistas. Xingado de traidor e farsante e achincalhado pelos sindicalistas, o autor da emenda que acaba com o imposto sindical, deputado Augusto Carvalho (PPS-DF), ficou isolado. Sentado na ponta da mesa, foi o único a defender que o imposto seja facultativo, e teve de ser cercado por seguranças, para não apanhar.

Aplaudido e quase carregado por sindicalistas, Paim anunciou que o projeto será votado conjuntamente nas três comissões do Senado e, depois, em plenário. Paim deixou para discursar no fim, e o fez como se estivesse numa assembléia sindical.

- Jamais vou deixar de reconhecer que, se fui deputado e senador, foi porque sou filho do movimento sindical. Não vamos aceitar uma única vírgula que prejudique a organização dos trabalhadores - disse Paim, alegando que mudar de posição não é crime.

Diante da platéia agressiva, Augusto Carvalho foi um dos primeiros a discursar. Tão logo pegou o microfone, os sindicalistas se levantaram e começaram a vaiar e a gritar "Fora, vagabundo, traidor". Foi exibido um cartaz com a foto do deputado, chamado de inimigo do trabalhador. Carvalho não conseguiu falar mais de cinco minutos. Voltou para a mesa e continuou ouvindo xingamentos. No fim, reconheceu que será difícil, mas ainda espera que os senadores votem pela emenda.

- Isso aqui foi uma farsa. Um assembleísmo, com a conivência do relator. Uma pena, não houve o contraditório. O que ouvi aqui foram ameaças veladas e algumas nem tanto. Ameaça de violência é fascismo. Se perguntar ao trabalhador, 90% vão dizer que não querem pagar esse imposto para financiar a farra e a orgia de pelegos com seu suado salário - lamentou.

Deputado Paulinho agride defensores do fim do imposto

Quando chegou a vez do discurso do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, o clima esquentou. No auditório, em pé, servidores que apoiavam Carvalho começaram a chamá-lo de pelego. O contra-ataque foi violento: Paulinho desceu da mesa e foi até o meio do grupo. Já chegou distribuindo sopapos e empurrões. Um dos alvos foi o servidor do Ministério do Planejamento Dalton Bitencourt. Outro manifestante foi atingido por um copo de água na cabeça.

- Ele está desesperado porque a mamata dele pode acabar - disse Bitencourt.

Paulinho foi cercado pelo grupo e também recebeu empurrões. Teve de sair do plenário.

- Eu estava indo ao banheiro quando ele me passou a perna para me derrubar, por isso o empurrei - alegou Paulinho.

Minutos depois, voltou à mesa e pediu a Paim que retirasse os manifestantes pró-Carvalho, que acusou de estarem tumultuando a audiência. O deputado pôs o dedo em riste:

- Você respeita, porque minha mulher está lá no meio!

- Deputado, pode mandar seus seguranças embora que você não vai apanhar aqui.

Em discurso, o secretário do Ministério do Trabalho Luiz Antônio Medeiros disse que estava ali não só como governo, mas também como cidadão e sindicalista. Canidé Pegado, da União Geral dos Trabalhadores (UGT), lembrou que até a CUT, contrária à cobrança compulsória, apoiava a derrubada da emenda.

- Se duas centrais sindicais unidas já têm muita força, imaginem todas as centrais unidas. Não tenham dúvida de que vamos impor aqui a derrota desta emenda - bradou Pegado, dizendo que os 215 deputados que votaram pela mudança na Câmara também tinham que ser marcados pelos sindicalistas.