Título: CPMF: terceiro mandato atrapalha negociação
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 02/11/2007, O País, p. 12

NEGOCIAÇÕES NO CONGRESSO: "Essa é uma questão que não tem cabimento algum", afirma ministro da Fazenda

Para aprovar prorrogação, PSDB poderá cobrar de Lula compromisso contra proposta de viabilizar nova reeleição

BRASÍLIA. A polêmica proposta de viabilizar um terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaça contaminar, na reta final, as negociações do governo com o PSDB em torno da CPMF. Pressionado por parte dos senadores e deputados tucanos a rejeitar o acordo, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), avisou a ministros e aliados do governo que a idéia de nova reeleição só aumenta a tensão dentro do seu partido. O alerta forçou ministros, líderes e petistas a refutarem a proposta do terceiro mandato. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que os defensores da proposta querem implantar aqui "uma cópia malfeita do governo Hugo Chávez", na Venezuela.

Diante dos ministros Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo (Planejamento), José Gomes Temporão (Saúde) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), em debate na Comissão de Constituição de Justiça do Senado (CCJ) sobre CPMF, Virgílio voltou a cobrar a repulsa do presidente Lula à proposta.

Na terça-feira, quando a Executiva do PSDB decidirá se fecha o acordo com o governo para aprovar a CPMF, os tucanos vão tratar do assunto. Há quem defenda no partido que se exija o compromisso de Lula de que não tentará aprovar a possibilidade de um novo mandato.

- Essa discussão não passa no Senado e não ajuda, principalmente agora que se está discutindo a CPMF com o PSDB. Falar em terceiro mandato é um modelo ruim e uma cópia mal feita do Chávez - disse Jucá.

Perguntado sobre o fato de o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), um dos defensores da proposta, ser amigo do presidente Lula, Jucá disparou:

- Se é amigo do presidente, não o está ajudando. Isso não passa no Senado, porque o PMDB e o PSDB são contra.

Receoso de que o debate comprometa o esforço das últimas semanas para um acordo com o PSDB em torno da CPMF, Mantega foi enfático:

- Essa é uma questão que não tem cabimento algum. Quando se coloca em debate o terceiro mandato, se prejudica o presidente Lula. É algo extemporâneo e inadequado. Pelo que conheço do meu presidente, ele não comunga dessa opinião. Estão falando isso a sua revelia, e essa discussão só o enfraquece e o prejudica - disse Mantega.

- Isso é completamente fora de propósito, e tenho ouvido isso do presidente Lula. Uma das coisas fundamentais da democracia é a alternância do poder - completou Paulo Bernardo.

- O PT no Senado vai se manifestar em consonância com o que disse o ministro Mantega - disse Eduardo Suplicy (PT-SP).

O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), condenou o debate:

- Acho isso uma inconveniência, um ato de violência à ordem constitucional.

COLABOROU Adriana Vasconcelos