Título: Comgás refuta crítica de ministro
Autor: Nogueira, Danielle; Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 02/11/2007, Economia, p. 27

Para governo, crise não justifica uso de Plano de Contingência.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O diretor de Finanças e Relações com os Investidores da Comgás, maior distribuidora de gás natural do país, Roberto Lage, disse ontem que o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, não tinha informações suficientes para dizer que a culpa pelo corte no fornecimento de gás para os mercados do Rio e de São Paulo era das distribuidoras, por venderem mais combustível do que haviam contratado. Segundo ele, as empresas não podem ser responsabilizadas por atender a uma demanda que está sustentando o crescimento do país.

- Ele (Hubner) não tem todas as informações para falar o que falou. O problema não é tão simples assim. O próprio governo incentivou as empresas a ampliarem o consumo de gás. Nós só estamos atendendo a essa demanda - disse Lage.

O governo considera que a redução do fornecimento de gás foi uma questão comercial entre fornecedores e seus clientes - Petrobras e distribuidoras. Por isso, segundo técnicos, a crise não justifica a utilização do Plano de Contingência, elaborado para os casos em que há desabastecimento do produto no país. Esse plano existe ainda em caráter informal, pois, para começar a valer de forma efetiva, é preciso que o projeto da Lei do Gás seja aprovado pelo Congresso. O texto ainda precisa passar pelo Senado. No início do ano, o governo avisou que não deixaria de aplicar o plano em casos extremos.

A convocação às pressas do presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, para reunião no Palácio do Planalto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na última quarta-feira, foi minimizada ontem pelo governo. A versão oficial foi de que Lima fez um balanço de sua gestão. Na prática, a crise e suas soluções fizeram parte das discussões, mas foi determinado um manto de silêncio sobre o tema.

Hubner também participou da reunião. Antes do encontro, culpou as distribuidoras e descartou um possível problema estrutural e garantiu que não há risco de faltar energia, tanto que as termelétricas estão em funcionamento. Ontem, ele não se manifestou.

Lage, da Comgás, disse ainda que a atual restrição da oferta pela Petrobras deve permanecer por mais 15 ou 30 dias. Mas, garantiu, não irá afetar o abastecimento em residências, comércio e postos de gás veicular.

A Comgás confirmou que a crise vai levar a um "pequeno racionamento" até que se adapte ao corte. Segundo o vice-presidente de mercados de grandes consumidores da empresa, Sérgio Luiz da Silva, sete grandes indústrias (de um grupo de 40 selecionadas pela Comgás) já concordaram em substituir o gás por óleo combustível.