Título: Projetos industriais do Rio são atingidos
Autor: Doca, Geralda
Fonte: O Globo, 02/11/2007, Economia, p. 30
Falta de mão-de-obra especializada prejudica investimentos do estado.
Destino de grandes investimentos industriais nos próximos anos - o pólo petroquímico de Itaboraí, a siderúrgica da CSA em Santa Cruz, a retomada da usina nuclear Angra 3 e o complexo portuário da MMX no Norte fluminense -, o Estado do Rio não forma mão-de-obra qualificada na velocidade exigida por esses projetos, dizem especialistas. E, pior: são indústrias parecidas entre si, concentradas nas áreas de energia e siderurgia e que, por isso, competem pelos mesmos profissionais.
Só na siderúrgica da CSA, serão até 18 mil empregos diretos na fase de implantação da usina e, durante a operação, 3.500 vagas. Ciente da escassez de capacitação, a alemã ThyssenKrupp, que tem 90% do projeto, firmou parceria com a Firjan para formar 1.500 trabalhadores - é o maior convênio já assinado pelo Senai-RJ com uma empresa privada, no valor de R$10 milhões. A companhia também está trazendo profissionais de outros países.
- Apenas a formação vai evitar que a CSA traga chineses para cá - afirma Renato Ramos, presidente do Sindicato de Metalúrgicos de Volta Redonda e região.
Para Ronaldo Fabrício, vice-presidente da Abdan, associação que apóia o desenvolvimento de atividades nucleares, o Rio não tem profissionais suficiente para dar vazão aos investimentos que recebe. Por isso, a Abdan fechou parceria com a Coppe para, em abril, iniciar um MBA em Energia Nuclear.
- A estagnação do setor fez com que os jovens perdessem o interesse pela carreira e os experientes se aposentassem.
Petrobras deve treinar 30 mil para o Comperj
O Complexo Petroquímico do Rio (Comperj), que deve entrar em operação em 2012, já treina profissionais em Itaboraí, São Gonçalo e nove municípios vizinhos. Para a Petrobras, a expectativa é treinar 30 mil pessoas, em 60 tipos de cursos gratuitos, dos quais 78% serão em nível básico, 21%, em nível técnico e 1%, em nível superior. Entre profissionais de nível superior, a disputa no setor de petróleo já é intensa. Segundo Alexandre Szklo, professor da Coppe/UFRJ, cada aluno da área recebe ao menos cinco propostas de emprego nos dois anos do mestrado. Agora, muitos já começam a desistir do curso antes de sua conclusão, tamanho é o assédio das empresas.
O dinamismo atual da indústria do petróleo significa rendimento extra para profissionais qualificados também na área técnica. Aos 54 anos, João Oliveira Silva não se intimidou diante da perspectiva de fazer um curso de alpinista industrial. Hoje, ganha cerca de R$3.900 na firma especializada Climbtec, mais do que o triplo de seu antigo salário de soldador (R$1.200). Ele chega a passar até quatro horas seguidas pendurado em guindastes para fazer reparos em cascos de navios ou plataformas.
- O curso exigiu muito da parte física. Teve gente que não agüentou, outros tiveram rompimento de tendão no braço. Para não correr o risco de ser reprovado, fiz seis meses de academia antes do curso - conta.
A necessidade de treinar mão-de-obra técnica levou a MMX, empresa de mineração e siderurgia do grupo EBX, a destinar R$250 mil para cursos de formação em parceria com o Senai e a prefeitura de São João da Barra. O Complexo Portuário do Açu, no município, ainda levará dois anos para ser construído e, no futuro, poderá abrigar siderúrgicas e termelétricas. Nessa primeira fase, o treinamento é para capacitação em diferentes técnicas de construção civil, num total de 490 vagas. Serão cerca de 3.800 empregos diretos na fase de obras e outros 600 e 1.800 indiretos na operação.
A grande dificuldade, diz a gerente de Recursos Humanos da MMX, Samanta Pereira, é contratar engenheiros.
- O mercado está selvagem. Os salários inflaram e os benefícios viraram commodities, todo mundo oferece. Com esses projetos para o Rio, a situação tende a piorar, e muito.
Mesmo o setor de turismo, tradicional no Estado do Rio, já acende a luz amarela, comenta Alexandre Sampaio, presidente do Sindicato. No interior do estado, há carência de especializados. O aeroporto de Cabo Frio acaba de ser inaugurado e será construído um grande resort em Maricá.
- Há muitos investimentos no interior fluminense. E não podemos perdê-los.
De olho nas oportunidades, Patricia da Rocha, de 28 anos, fez vários cursos de qualificação. Entre eles, o de garçonete.
- Falta oportunidade para quem tem apenas o nível médio. Então, preciso me qualificar - disse ela, que está desempregada há três anos.