Título: Entre a realidade e a promessa
Autor: Duarte, Patrícia; Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 03/11/2007, O País, p. 3

País teve 35% dos vôos atrasados ou cancelados, mas Infraero garante volta tranqüila.

Com o carrinho cheio de malas e na fila para fazer o seu check-in no aeroporto de Brasília como qualquer outro cidadão, o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, garantiu ontem que o feriado de Finados será "absolutamente tranqüilo" para quem quer viajar de avião, apesar do caos da última quinta-feira e da madrugada de sexta. Segundo ele, as negociações com os funcionários da estatal já foram concluídas e a Justiça determinou que os trabalhos nos aeroportos não sejam interrompidos.

- Se houver atrasos, será dentro do limite normal, entre 30 e 40 minutos - disse Gaudenzi, que estava viajando para Buenos Aires, na Argentina, para participar de uma reunião da Federação Internacional dos Aeroportos.

Apesar da aparente tranqüilidade, Gaudenzi chegou a orientar, durante a semana, que as pessoas que fossem viajar neste fim de semana evitassem horários de pico. Quem deixou para viajar de avião ontem, na tentativa de escapar do caos dos aeroportos da véspera do feriado de Finados, também enfrentou transtorno com atrasos e cancelamentos em todo o país. No balanço divulgado às 19h pela Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), 16,9% dos 1562 vôos da malha aérea nacional sofreram atrasos de mais de uma hora e 18,1% das viagens programadas foram canceladas ontem.

No Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o percentual de cancelamentos chegou a 31,3%, com 5,6% de atrasos. No Aeroporto do Galeão/Tom Jobim, no Rio, 25,8% das decolagens atrasaram e 11,7% dos vôos foram cancelados.

Infraero se reunirá com funcionários

Na quinta-feira, os funcionários da Infraero em Guarulhos fizeram operação-padrão para pressionar a empresa a pagar um bônus de Natal. Como protesto, deixaram de cumprir horas extras e diminuíram o pessoal que trabalha nas máquinas de raios X, causando imensas filas de passageiros. À tarde, a Justiça Federal do Distrito Federal determinou o fim da operação porque considerou o movimento ilegal.

O presidente da Infraero afirmou que há algum tempo já vem negociando com os aeroportuários, e indicou que não deverão ocorrer mais problemas. Na segunda-feira, quando Gaudenzi retornar ao Brasil, deve haver uma reunião entre a estatal e os funcionários, que ameaçavam entrar em greve.

Ontem, as companhias aéreas colocaram os atrasos mais uma vez na conta do mau tempo, que, de fato, chegou a fechar aeroportos. Anteontem à noite, o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, foi fechado por sete minutos devido a chuvas. Pela manhã de ontem, as más condições do tempo fecharam o aeroporto de Joinvile (SC). À tarde, o fechamento do aeroporto de Brasília causou transtornos aos passageiros no feriado. Um vôo da TAM, por exemplo, teve de ser transferido para Goiânia e os passageiros, segundo nota divulgada pela assessoria da empresa, seriam conduzidos de ônibus a Brasília.

Em São Paulo, o problema maior foi no Aeroporto Internacional de Guarulhos, onde durante a manhã os atrasos atingiram quase 20% dos vôos. A assessoria de imprensa da TAM afirmou que o problema foi o tráfego aéreo intenso e as condições desfavoráveis do tempo em grande parte dos aeroportos das regiões Sul e Sudeste. Em nota divulgada à imprensa, a Gol também se justificou responsabilizando o mau tempo de quinta-feira à noite e de ontem de manhã, o que gerou atrasos em cadeia nos aeroportos do país.

Tom Jobim teve madrugada tensa

Depois de uma madrugada tumultuada, o Aeroporto Tom Jobim teve ontem uma manhã tranqüila. De acordo com a Infraero, dos 63 vôos programados entre meia-noite e 11h, 14 atrasaram (alguns em mais de quatro horas) e sete foram cancelados. Mas, até as 19h, dos 134 vôos programados, já eram 32 (23,9%) os que estavam atrasados e 17 (12,7%) foram cancelados. No Santos Dumont, os atrasos foram poucos: dos 74 vôos, três (4,1%) atrasaram em mais de uma hora. Já os 20 cancelamentos representam 27% das viagens programadas.

A madrugada no Tom Jobim foi de longa espera nos guichês. Pouco antes das 2h, os painéis registravam atrasos em praticamente todos os vôos domésticos. O tumulto mais sério foi provocado pelo cancelamento de um vôo da Gol para Curitiba. Os passageiros bateram boca com os funcionários na companhia. Eles não se conformavam com as explicações fornecidas. Pela manhã, oito vôos continuavam atrasados. Às 11h, ainda havia passageiros do vôo cancelado tentando embarcar.

Com o fim da operação-padrão dos funcionários da Infraero, ontem os saguões dos aeroportos de São Paulo não registraram grandes filas na entrada da área de embarque. Na véspera do feriado, as filas chegaram a cortar o terminal 1 de Cumbica, atingindo a saída do terminal.

Em protesto, os aeroportuários negaram-se a fazer horas extras e os passageiros enfrentaram até uma hora e meia de fila. A categoria negocia na segunda-feira com a direção da estatal, em Brasília, o pagamento de um bônus de Natal (20 tíquetes de R$22). O diretor do Sindicato Nacional dos Aeroportuários, Francisco Lemos, disse ontem que, se a Infraero não assumir o pagamento do abono, será deflagrada uma greve por tempo indeterminado a partir da meia-noite de terça-feira.

- Até agora só deixamos de fazer hora-extra, mas se a Infraero não aceitar as nossas reivindicações, vamos cruzar os braços na semana que vem - disse Lemos, referindo-se aos cerca de 10 mil funcionários que trabalham nas áreas de operações, segurança e transporte de cargas dos terminais aéreos brasileiros. Segundo ele, o déficit de funcionários em todo o país é de 1,8 mil.

COLABORARAM Bernardo Mello Franco e Chico Otavio