Título: Renan volta ao Senado para lutar pelo mandato
Autor: Vasconcelos, Adriana; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 03/11/2007, O País, p. 9

Senador deve renovar licença da presidência até que o PMDB encontre candidato de consenso para sua sucessão.

BRASÍLIA. Com as articulações para sua sucessão em curso e mais três processos no Conselho de Ética em andamento, o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avisou aos amigos mais próximos que retorna ao Senado na próxima semana para exercer seu mandato de senador. A licença médica de 10 dias venceu ontem.

O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) informou que ele fez uma bateria de exames no Incor de Brasília e "está tinindo" para retornar ao trabalho. Mas, diante da dificuldade do PMDB em encontrar um candidato de consenso para sua sucessão, e sem garantias de que conseguirá salvar o mandato no próximo julgamento em plenário, Renan voltou a trabalhar com a hipótese de renovar a licença da presidência do Senado, que acaba no próximo dia 26.

Almeida Lima vai notificar Renan na terça-feira

O senador Edison Lobão (PMDB-MA) também esteve com Renan há alguns dias e contou que o encontrou mais confortado e descansado. Disse que sua impressão é de que Renan não renovará a licença médica:

- Ele tem falado com senadores, por telefone, quase todos os dias. Os amigos também o visitam muito.

Relator da denúncia de envolvimento de Renan em um esquema de propina nos ministérios do PMDB, o senador Almeida Lima (PMDB-SE) disse que, a princípio, pensou em considerar a representação do PSOL inepta, por falta de provas. Mas reconsiderou e, na terça-feira, notifica Renan para que ele apresente defesa. Salgado disse que esteve com Renan na véspera do feriado e ouviu dele que está pronto para voltar. Renan continua na residência oficial e não pensa mais em ir para o apartamento funcional, mesmo com a possibilidade de renovar a licença da presidência.

- O Renan já emprestou o carro, o motorista e o gabinete para o Tião Viana (presidente em exercício do Senado). Tudo que o Tião está usando foi emprestado por ele, que continua presidente - disse Salgado.

Segundo os amigos que o visitam, Renan está muito esperançoso com a possibilidade de manter o mandato de senador. Está conformado em perder a presidência do Senado. As negociações que garantirão sua renúncia têm como contrapartida a manutenção do mandato parlamentar.

Garibaldi é candidato e está em campanha

Até agora, apenas Garibaldi Alves (PMDB-RN) assumiu abertamente a disposição de disputar a vaga de Renan, que trabalhava para emplacar José Maranhão (PMDB-PB), cujo nome acabou bombardeado por uma denúncia de enriquecimento ilícito formalizada junto ao Conselho de Ética na última terça-feira por uma ONG. Com isso, cresceu a chance de um novato na bancada, Edison Lobão, credenciar-se para um mandato tampão de pouco mais de um ano.

O líder do PMDB, Valdir Raupp (RO), fez um apelo à bancada na última terça-feira para frear o debate sobre a sucessão de Renan. Mas, antes do fim da reunião, Garibaldi avisou que lançaria sua candidatura tão logo a discussão sobre o tema fosse aberta, e nos bastidores, saiu em campanha. Procurou primeiro o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem teve uma conversa franca para saber se havia algum veto do governo a ele pelo fato de ter sido relator da CPI dos Bingos - conhecida como CPI do Fim do Mundo por não poupar nem o filho do presidente, Fábio Luís Lula da Silva. Lula disse que não havia veto, ainda mais depois que Garibaldi anunciou o voto a favor da prorrogação da cobrança da CPMF.

As resistências maiores a Garibaldi vêm do próprio PMDB, especialmente de Renan, que não o perdoa por ter votado em José Agripino (DEM-RN), durante sua reeleição e a favor de sua cassação, em setembro. Ciente disso, ele intensificou seu trabalho na bancada. Na última quarta-feira, teve longa conversa com o ex-presidente José Sarney, a quem antecipara que desistiria em seu favor. Sarney agradeceu, mas o aconselhou a mergulhar neste momento, até que o próprio Renan decida que chegou a hora de renunciar à presidência do Senado.

Ao contrário de Garibaldi, Maranhão foi sondado pela primeira vez há cerca de 15 dias por Sarney. O senador paraibano argumentou que teria dificuldades para assumir a missão, tendo em vista a briga jurídica que trava no Tribunal Superior Eleitoral para assumir o mandato do governador da Paraíba, o tucano Cássio Cunha Lima.

O trabalho de convencimento de Sarney e Renan, porém, foi atropelado por denúncia protocolada no Conselho de Ética pela Associação Nacional de Defesa da Administração e do Erário Público, Meio Ambiente, Consumidor e Cidadão (Andar), com sede em João Pessoa, questionando o crescimento do patrimônio de Maranhão que, em oito anos, teria adquirido 28 mil cabeças de gado. O senador se defende alegando que é empresário desde os 16 anos.

- Nem botei a cabeça e já levei chumbo. Imagine se tivesse dito que queria ser candidato - reclamava na semana passada Maranhão, negando a pretensão de disputar a vaga de Renan.

Lobão, novato no PMDB, é citado como opção no partido

Com a resistência das principais lideranças da bancada, como Sarney, Raupp e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), a entrar na disputa, temendo virar alvo da artilharia da oposição ou de novas denúncias na imprensa, o nome de Lobão começou a ser citado como opção. Lobão tem a seu favor a forte ligação com a família Sarney, além da larga experiência legislativa - está no seu terceiro mandato como senador e já presidiu a Casa por três meses durante a licença, seguida de renúncia, de Jader Barbalho.

- Não cogito qualquer candidatura, nem minha e nem de outros colegas, até porque a cadeira está ocupada e há uma recomendação do líder nesse sentido - desconversa Lobão.