Título: Leite só agora proibido
Autor: Paul, Gustavo; Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 03/11/2007, Economia, p. 25

Ministério veta venda de produtos de 4 fábricas, informação mantida sob sigilo desde o dia 26.

As empresas envolvidas na adulteração de leite por soda cáustica e água oxigenada estão proibidas de vender leite UHT - o do tipo longa vida, de caixinha - até que comprovem a qualidade do produto por meio de análises técnicas. A informação estava sendo mantida sob sigilo pelo governo e foi revelada ontem pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que determinou a medida no dia 26 de outubro, por meio de um ofício dirigido às empresas. A medida envolveu as unidades de produção da Parmalat em Santa Helena, Goiás, e em Carazinho, no Rio Grande do Sul; a cooperativa Avipal, em Itumbiara, Goiás; a Coopervale, de Uberaba, e a Casmil, de Passos, ambas em Minas Gerais. Foi nessas empresas mineiras que a operação Ouro Branco da Polícia Federal identificou a fraude.

Logo depois da revelação oficial da proibição, a Parmalat divulgou nota comunicando que a unidade de Santa Helena foi liberada ainda ontem pela avaliação dos laboratórios do Mapa. Segundo a nota, os fiscais "inspecionaram a fábrica em Santa Helena (GO), que teve sua produção analisada e aprovada". Ainda de acordo com a empresa, o laudo da análise de amostra colhida em Carazinho "deve ser apresentado em breve". No fim da noite, o Mapa confirmou a informação.

A medida do ministério não impede que as fábricas produzam, embalem e estoquem o leite longa vida, embora proíba a venda, e não envolveu o leite pasteurizado, vendido em saquinhos. A revelação da suspensão da venda só ocorreu depois que informações contraditórias, divulgadas ontem, sugeriam que novas medidas haviam sido tomadas contra as empresas.

Anvisa recolheu lote de três marcas

Segundo a Parmalat, as duas unidades produziam e só estavam impedidas de vender e distribuir o produto. O varejo não seria afetado porque o abastecimento foi feito pelas outras fábricas da empresa. Além das duas unidades que sofreram sanções, a empresa tem outras três que não foram punidas: em Garanhuns (PE); em Ouro Preto de Rondônia e em Itaperuna, Rio. A empresa compra e recebe, diariamente, mais de 2 milhões de litros de leite cru de 5 mil produtores e cooperativas de todo o país.

Já a Casmil disse, por meio de sua assessoria, que já informou ao Mapa que não produz o leite longa vida, mas apenas do leite cru.

De acordo com a assessoria do Mapa, a suspensão faz parte das medidas saneadoras anunciadas pelo ministro Reinhold Stephanes depois da descoberta da adulteração de leite nas cooperativas de Minas Gerais. Entre as medidas está o fim gradual da fiscalização permanente feita por apenas um fiscal nas usinas de produção de leite. O controle passará a ser exercido por auditorias feitas por equipes compostas por três fiscais federais (dois veterinários e um agente de inspeção sanitária), que deverão visitar as empresas sem aviso prévio - a meta é uma vez por mês - pelo tempo necessário para verificar as instalações e a qualidade do produto.

Outra decisão foi intensificar a coleta de amostras de leite para submetê-las a análise laboratorial. Serão coletadas todas as marcas disponíveis, em todo o país. Caso sejam identificados problemas no leite, como acidez, a empresa será submetida a um Regime Especial de Avaliação e Controle, o que significará a retenção do produto. Elas deverão apresentar um programa para melhorar a qualidade do leite e as fraudes comprovadas serão encaminhadas ao Ministério Público. As empresas que cometerem fraudes serão responsabilizadas criminalmente e só voltarão a produzir sob outras condições.

No mesmo dia 26 de outubro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a interdição de vários lotes de leite tipo longa vida vendido pelas empresas Parmalat, Calu e Centenário. A medida foi adotada depois de a Anvisa ter recebido os laudos da PF sobre o produto. Segundo eles, os lotes estavam em desacordo com os padrões de qualidade do Ministério da Agricultura.

Da Parmalat, foram recolhidos os lotes LCZL062:3 e LCZL01 12:42; da Calu, 4G, 4K e 4W; e da Centenário, os lotes 1 (com data de fabricação: 25/7/2007) e 2 (28/7/2007). Como medida de precaução e segurança à saúde, a Anvisa orientou a população a não consumir leite dos referidos lotes até a conclusão das investigações. Os estoques dos lotes interditados foram proibidos de serem comercializados.

Clientes foram surpreendidos

No supermercado Sendas, um cartaz numa filial do Centro informava que os produtos à venda estão em conformidade com a Anvisa. Dentro da loja, poucas pessoas procuravam a gôndola de leite. Já Joana Fonseca, que acabara de fazer compras numa loja do Mundial, comprou o leite Musa Integral, beneficiado em Muriaé:

- Não sabia que outras marcas estavam sendo retiradas dos mercados. Fico aliviada de saber que o leite que comprei não está na lista.