Título: Aliado de Chávez diz que reforma é golpe
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 06/11/2007, O Mundo, p. 30

Ataque foi feito pelo ex-ministro da Defesa Isaias Baduel. Lula defende presidente venezuelano e o compara a Thatcher.

BUENOS AIRES. Três dias depois de a Assembléia Nacional (o Congresso venezuelano) ter dado sinal verde ao projeto de reforma constitucional enviado pelo presidente Hugo Chávez, o governo foi alvo de novas e duríssimas críticas por parte de setores da oposição que incluíram até mesmo ex-integrantes do Gabinete chavista, como o ex-ministro da Defesa Raúl Isaias Baduel, considerado até pouco tempo amigo íntimo do líder venezuelano. Em entrevista coletiva, o general da reserva assegurou ontem que "se for aprovada a reforma constitucional estaria sendo realizado, na prática, um golpe de Estado na Venezuela".

Baduel, que abandonou o governo em julho, é considerado o principal artífice do retorno de Chávez ao poder após o golpe de Estado de 2002. Depois de ter passado para a reserva, o general admitiu suas divergências com o presidente Chávez.

- No século XVIII não existiam constituições porque o que existiam eram monarcas absolutistas e autoritários que tinham todo o poder. As constituições nascem, precisamente, para limitar o poder dos governos - afirmou Baduel.

Segundo o ex-ministro da Defesa, "qualquer Constituição que elimine limites ao poder deve ser observada com suspeita". Baduel pediu aos venezuelanos que se informem sobre o projeto de reforma, que será submetido a referendo no dia 2 de dezembro.

- Não deixem que lhes tirem o poder - enfatizou o general.

Estudantes fazem mais protestos contra a reforma

O relacionamento entre Baduel e Chávez é antigo. Realizaram a carreira militar juntos e sempre foram grandes amigos. O presidente é padrinho de um dos filhos do general. No entanto, as diferenças começaram a ficar evidentes nos últimos meses. No discurso de despedida, Baduel defendeu a necessidade de construir um socialismo democrático e, assim, oficializou suas críticas ao governo.

- Esta não é uma reforma constitucional, é uma transformação do Estado - declarou o general, que defendeu a necessidade de convocar uma Assembléia Constituinte para modificar a Constituição.

O governo chavista também foi criticado ontem pelo presidente do Concílio Plenário da Conferência Episcopal Venezuelana, monsenhor Ovídio Pérez Morales, que acusou o presidente de liderar uma campanha de perseguição contra a Igreja.

- Chávez pretende ser o sumo Pontífice deste país, ou seja, determinar o que os bispos devem dizer, o que não podem dizer, quando devem falar e quando calar - disse.

Ontem, várias cidades tiveram manifestações de estudantes contra a reforma. Em Caracas, a polícia reprimiu protestos com bombas de gás lacrimogêneo, jatos d"água e balas de borracha.

Em Brasília, embora relutantemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou defendendo, de forma velada, Chávez. Num primeiro momento, Lula afirmou que o presidente venezuelano "está fazendo aquilo que entende que deva fazer" na Venezuela. Depois o comparou à ex-premier britânica Margaret Thatcher e ao ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl.

- É engraçado porque eu já vi Margaret Thatcher ser tantas vezes eleita primeira-ministra, já vi Helmut Kohl ficar tanto tempo e nunca vi ninguém perguntar se vários mandatos sucessivos eram ruins - disse Lula, que defendeu a democracia: - Eu só posso falar pelo Brasil. Vou repetir: eu penso que o Brasil não pode brincar com uma coisa chamada democracia. Muita gente sofreu para que a gente consolidasse nossa democracia. Ela está se fortalecendo.

* Com Chico de Gois e Eliane Jungblut, de Brasília