Título: Aliados agora também ameaçam o governo
Autor: Camarotti, Gerson e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 07/11/2007, O País, p. 3

Com cinco senadores, PDT se torna decisivo e exige redução da alíquota da CPMF em 2008.

BRASÍLIA. A decisão da bancada do PSDB de votar contra a prorrogação da CPMF teve efeito imediato na base governista, que já não disfarçava o incômodo com o empenho do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em atender às exigências dos tucanos. Agora, são os aliados que prometem dar trabalho. O líder do PDT, senador Jefferson Peres (AM), antecipou que seu partido - que tem cinco votos no Senado - só votará a favor da CPMF se o governo se comprometer com uma redução gradual da alíquota do tributo até chegar em 0,2% em 2011. Ele quer que, já no próximo ano, a alíquota caia dos atuais 0,38% para 0,35%.

- Sem o votos do PSDB, o PDT poderá virar o fiel da balança nessa votação. Mas o PDT só votará a favor se o governo reduzir a alíquota. Eu disse isso ao ministro Mantega, mas ele não deu muito importância, porque ainda contava com os votos do PSDB - disse Peres, na volta do almoço com o ministro da Fazenda.

O senador Osmar Dias (PDT-PR), antes de saber que Peres havia participado de uma reunião com Mantega, usou a tribuna para reclamar da falta de iniciativa do governo de negociar a CPMF com a base governista.

- Se o governo acha que só o PSDB decide essa votação, o PDT pode se considerar liberado para votar como quiser - observou.

O Palácio do Planalto começou ontem mesmo a refazer as contas para mapear os votos que tem em cada um dos partidos da base. O primeiro teste será na Comissão de Constituição e Justiça, que analisará na próxima segunda-feira o parecer contrário da relatora Kátia Abreu (DEM-TO).

A despeito das dificuldades que vem enfrentando nas negociações com a oposição e mesmo com aliados, o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), limitava-se ontem a repetir que a CPMF será aprovada.

- Vamos ter os 49 votos necessários - disse Jucá.

No bloco governista, formado por PT, PSB, PTB, PP, PR e PRB e que reúne 27 senadores, a expectativa é que a dissidência fique restrita ao senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Outra dúvida seria o senador Romeu Tuma (SP), que trocou recentemente o Democratas pelo PTB, e pode seguir a posição do antigo partido, contra a CPMF.

- Teremos muito trabalho até a votação - admitiu a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), que reunirá o bloco hoje às 13h.

O líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), também marcou uma reunião da bancada para hoje, às 15h, para discutir a CPMF. Ele garante que, dos 20 votos do partido, 17 estão fechados a favor da CPMF. Dos três senadores que podem votar contra, Raupp ainda espera mudar pelo menos um voto, o de Pedro Simon (RS). Os outros são os dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Mão Santa (PMDB-PI).

Mesmo assim, os votos do PMDB e do bloco seriam insuficientes para aprovar a CPMF. Podem chegar a 48 votos, mas garantidos hoje há 44, cinco a menos do que o necessário para aprovação de uma emenda constitucional. Esse quadro só reforça a impressão que os cinco votos do PDT são indispensáveis para o governo.

- A base sozinha pode chegar a 50 votos, mas será muito arriscado. Teremos de colocar todos em plenário. Ninguém poderá furar - advertiu Raupp.

A oposição contesta essa conta, ainda mais se o PSDB, que tem 13 votos, seguir os passos do Democratas, com 14 votos, e do PSOL, com um.

- Se o PSDB ficar conosco, a conta do governo não fecha - disse a senadora Kátia Abreu (DEM-TO).