Título: PSDB rejeita aprovar CPMF
Autor: Camarotti, Gerson e Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 07/11/2007, O País, p. 3

CONFRONTOS NO CONGRESSO

Após negociar prorrogação com o governo, bancada no Senado desiste do acordo.

Abancada do PSDB no Senado decidiu ontem, por 9 votos a 4, encerrar as negociações com o governo e fechar posição contra a prorrogação da CPMF até 2011. A decisão de rejeitar a proposta do ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi tomada após a constatação de que a possibilidade de acordo com o governo poderia rachar o partido de forma definitiva. Os senadores eram pressionados por governadores tucanos, que querem a prorrogação da CPMF, mas também por parlamentares da base tucana que defendem a oposição ao governo.

Após três horas de almoço no gabinete do presidente do partido, Tasso Jereissati (CE), a bancada enquadrou a cúpula tucana, favorável à negociação. Defenderam o acordo os senadores Tasso, Sérgio Guerra (PE), Eduardo Azeredo (MG) e Lúcia Vânia (GO). Para evitar confronto maior, a reunião da executiva nacional marcada para ontem à noite foi adiada.

A bancada tucana concluiu que a proposta do governo era insuficiente em relação à redução da carga tributária e poderia comprometer a imagem do partido. O governo havia se comprometido a elevar o limite de isenção da CPMF para quem tem renda de até R$4.340, em vez dos R$1.642 negociados até então. Antes do almoço, a cúpula tucana admitia apresentar uma contraproposta, influenciada pelos governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). Mas, após a reunião, encerrou as conversas.

- Essa é uma proposta que a bancada não aceitou. As negociações estão encerradas - disse Guerra, futuro presidente do PSDB.

O líder da bancada na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio (SP), participou do almoço dos senadores. A posição do DEM, que fechou questão contra a CPMF, também emparedou os tucanos, que assumiriam o desgaste de negociar a prorrogação de tributo impopular.

Após a reunião, Tasso tentou explicar a mudança de posição. Disse que, inicialmente, a proposta do governo parecia boa; mas, ao fazerem as contas, os tucanos perceberam que os benefícios seriam inócuos.

O governador Aécio Neves acabou apoiando a decisão e criticou a proposta do governo. Ele disse que conversará hoje com o presidente Lula sobre o assunto, em Belo Horizonte.

-- Acho que em política nada é irreversível quando se tem boa vontade - disse Aécio, que concorda com os senadores do PSDB de que a proposta do governo é tímida e distante das demandas apresentadas pelo partido.

Virgílio: "Isso não é a casa da dona Noca"

Tasso admitiu reabrir as negociações, caso surja nova proposta:

- Na semana passada, o governo fez uma proposta que parecia boa, mas sem os números. Os números foram colocados hoje (ontem) e são inócuos. É uma desoneração, num universo de R$40 bilhões, de apenas R$2 bilhões. É irrelevante - disse Tasso, para em seguida ponderar: - Agora, se fizer uma desoneração de R$10 bilhões, temos que abrir o diálogo.

Diante do recuo dos tucanos, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), admitiu que o governo teria condições de ceder mais para aprovar a prorrogação da CPMF, o que gerou reação imediata do líder da bancada, senador Arthur Virgílio (AM). Ele explicitou o desgaste do partido durante semanas de negociações.

- O governo não vai fazer com o PSDB uma negociação de mercado persa. Ele já colocou sua proposta e não aceitamos. O partido vai votar unido, não vai precisar fechar questão. Isso não é a casa da dona Noca, onde cada um vota de um jeito. Além de ser pífia, a proposta diminui o rateio dos estados porque tira do Imposto de Renda - disse Virgílio, ironizando a necessidade do governo de negociar com o PMDB para aprovar a CPMF: - Falando em Bolsa de Valores, subiram as ações dos senadores do PMDB.