Título: BRA suspende vôos e demite 1.100 funcionários
Autor: Freire, Flávio; Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 07/11/2007, O País, p. 8

CRISE AÉREA: Rombo nas finanças da empresa, terceira maior do setor no país, pode chegar a US$30 milhões.

Em grave crise financeira, companhia fechou lojas e teve cinco aeronaves retidas no aeroporto de Guarulhos.

SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO. Em crise financeira, a BRA Transportes Aéreos suspendeu ontem seus vôos domésticos e internacionais e pôs em aviso prévio os 1.100 funcionários da companhia. As cinco aeronaves ainda em operação - de um total de dez - foram levadas para Guarulhos, em São Paulo. As lojas fecharam as portas e os passageiros que têm bilhete na mão terão de recorrer, a partir de hoje, a outras empresas aéreas para tentar o endosso das passagens e seguir viagem.

Em nota, a BRA orientou passageiros a não se dirigir aos aeroportos ou às suas lojas, mas obter informações pelo site da companhia ou por telefone. Ontem, o site informava: "Desculpe o transtorno, o site da BRA está em manutenção. Tente mais tarde". A linha telefônica ficou congestionada após o anúncio de suspensão dos vôos.

Terceira maior empresa aérea do país, fundada em 1999 inicialmente como operadora de vôos charter, a BRA tinha 4,6% dos mercado doméstico (dados de setembro deste ano). A BRA paralisou as operações alegando que aguarda aporte de recursos dos acionistas para voltar a operar. Até setembro deste ano, transportou 2 milhões de passageiros - 220 mil por mês. O mercado estima um buraco nas finanças de US$30 milhões.

Acionistas da companhia negociam com a Brazil Air Partners, que em 2006 comprou 20% do capital da BRA por R$180 milhões. A empresa tem entre seus sócios a Gávea Investimentos, administradora de recursos do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. A Brazil Air Partners liberou R$100 milhões, mas informou que o resto só seria desembolsado após a saída do presidente da companhia, Humberto Folegatti. Ele deixou a presidência executiva na última quinta-feira, mas ainda preside o conselho da companhia.

Passageiros sem informação

Na BRA, ninguém comentava ontem a suspensão das operações. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já havia suspendido as vendas de passagens da empresa para Lisboa, Madri e Milão. Ontem, a comerciante Daniela Melino esperava informações de sua mãe, Mariam Miriam da Silva, de 77 anos, que embarcou em um vôo da BRA em Recife por volta de 14h40m e não conseguiu chegar ao Rio, porque os aviões ficaram retidos em São Paulo.

- Ela viajou sozinha e ninguém na BRA sabe dizer se ela será acomodada e em que vôo será colocada para vir ao Rio. Como fazem isso sabendo que a empresa vai parar? - protestou Daniela.

De acordo com o especialista em aviação Paulo Sampaio, a má gestão da BRA resultou no fechamento da empresa, já que a companhia era considerada um segmento dos negócios da família Folegatti, dona da agência de viagens PNX, entre outros negócios ligados ao turismo. Segundo ele, os fundos de investimento desistiram de tentar administrar a BRA com a permanência de Folegatti no cargo.

A BRA vinha registrando problemas de manutenção das aeronaves. Em julho, um vôo com 225 pessoas pousou de emergência em Lisboa com um problema na turbina. No início de outubro, um vôo que fazia a rota Porto Alegre-São Paulo teve despressurização na cabine.

Em agosto deste ano, a BRA assinou com a Embraer um contrato de compra de 20 jatos. A General Electric Commercial Aviation Services, empresa de arrendamento de aviões da GE, anunciou que o contrato com a BRA para a compra de dois jatos Embraer 195, que seriam entregues este ano, foi cancelado por atraso no pagamento.