Título: Redução dos juros vai ser cautelosa
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 21/04/2009, Economia, p. 24

Banco Central não deve promover novas quedas agressivas na taxa básica para evitar fortes elevações em 2010, um ano eleitoral

Montero, da Convenção: BC vai mostrar que está ciente dos riscos O mercado financeiro mudou suas apostas em relação à política de juros comandada pelo Banco Central. Se há uma semana, o grosso dos analistas acreditava que o Comitê de Política Monetária (Copom) forçaria a mão e cortaria, na próxima semana, a taxa básica (Selic) em 1,5 ponto percentual, dos atuais 11,25% para 9,75% ao ano, desde ontem o consenso começou a migrar para um ponto. A mudança veio após declarações do presidente do BC, Henrique Meirelles, indicando os riscos de baixar demais os juros agora e ter de aumentá-los ao longo de 2010 ¿ um ano eleitoral ¿, quando a atividade econômica terá recuperado o fôlego.

¿Acredito que o Copom será mais comedido para não assumir grandes riscos. Por isso, estou prevendo o corte, o que permitirá ao BC chegar a junho com indicadores econômicos mais consistentes para decidir ou não por novas baixas¿, disse Elson Teles, economista-chefe da Concórdia Corretora. A seu ver, há sinais, ainda que frágeis, de retomada da produção e do consumo. Mas não se sabe se são apenas espasmos de uma economia que continua no chão, ou se sinalizam que o fundo do poço ficou para trás. ¿O quadro é de muita incerteza. Portanto, é possível que o Copom opte por cortar a Selic em um ponto na semana que vem e mais 0,5 ponto em junho, encerrando o processo de baixa¿, disse.

Mas Teles não descarta uma postura ainda mais conservadora do Copom. ¿É possível, sim, que a Selic caia menos de um ponto neste mês¿, frisou. Essa hipótese se mostrou clara nos contratos futuros de juros. A estimativa de queda para a próxima semana ficou em 0,9 ponto.

Agressividade Na avaliação de Fernando Montero, economista-chefe da Corretora Convenção, a despeito de haver espaço para o Copom ser mais ousado no corte dos juros, pois a inflação está sob controle, tudo indica que não se repetirá a baixa de 1,5 ponto verificada em março. ¿Se achar que o mercado realmente acredita na possibilidade de a Selic voltar a subir em 2010, o BC vai segurar os cortes agora para mostrar que está ciente dos riscos de uma postura mais agressiva¿, assinalou. ¿Mas não há dúvidas de que, do ponto de vista da economia real, seria muito bom uma queda de 1,5 ponto, pois ajudaria a consolidar as frágeis perspectivas de retomada da atividade. As famílias se animariam a consumir mais e os empresários, em voltar a investir¿, afirmou.

Para o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho, o BC deve se pautar por cinco fatores para ir mais devagar no processo de afrouxamento da política monetária.

1) A melhora na margem de quase todos os indicadores de estoques, que já estariam baixos, e de produção. 2) A robustez das vendas do comércio, já que a renda se mantém crescente. 3) A criação de vagas formais no mercado de trabalho voltou a ficar positiva. 4) O governo está gastando demasiadamente, a ponto de reduzir a economia para o pagamento de juros (superávit primário), de 3,8% para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). 5) O mercado internacional começa a dar sinais de menor aversão ao risco entre os investidores.

¿O BC está olhando para a frente. Assim, a tendência é de fazer uma política mais suave de juros, sobretudo porque quer ganhar tempo para ver se a economia vai mesmo melhorar e porque há o efeito cumulativo dos cortes já feitos (desde janeiro, a Selic baixou 2,5 pontos)¿, frisou Thadeu Filho. Nesse contexto, ele revisou sua projeção para a Selic de 8,75% para 9,75% no fim deste ano.