Título: Brasil não sabe ser líder
Autor: Tavares, Mônica; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 08/11/2007, Economia, p. 26

O Brasil precisa se portar como um parceiro estratégico e não apenas como um mercador, defende o Ricardo Sennes, da PUC/SP e diretor da Prospectiva Consultoria Internacional.

Liana Melo

Com o processo de nacionalização, é correto afirmar que a Bolívia foi quem mais perdeu?

RICARDO SENNES: A Bolívia perdeu muito. Eles ajustaram os preços e puniram o capital estrangeiro, como se ele estivesse lá apenas para explorar as riquezas do país. Muitas vezes isso é absolutamente verdadeiro.

E num contexto regional, quem perdeu mais: o Brasil ou a Bolívia?

SENNES: Para viabilizar uma exploração de gás é necessário ter jazida, capital, mercado, tecnologia e logística. O Brasil era fornecedor de quatro desses cinco itens, enquanto a Bolívia só tem suas reservas de gás. Não bastasse estar isolada no meio do continente, a Bolívia ainda inviabilizou seu projeto de construir um gasoduto e um porto no norte do Chile. Com isso, só resta para o país negociar com o Brasil e a Argentina. Ou seja, a Bolívia se envolveu numa equação política bastante complicada.

A conclusão a que se chega então é que o Brasil só tem a ganhar?

SENNES: Não, todos perdem. A sinalização dada para a região foi muito ruim. Criou-se uma instabilidade pior que a escassez do gás. A quebra do contrato da maneira como foi feita é traduzida no mundo econômico em sobrepreço.

O que o sr. acha da reaproximação entre os dois países?

SENNES: Não faz nenhum sentido o Brasil fazer bravatas, até porque o que ocorreu na Bolívia não foi um processo institucionalizado, foi uma convulsão social. O governo brasileiro não foi capaz de gerenciar a situação e se portar com um parceiro estratégico. O Brasil deveria ter aberto negociações antes da crise explodir e oferecer compensações financeiras, até um limite que valesse a pena.

Foi então um erro estratégico?

SENNES: O tipo de parceria do Brasil com a Bolívia traduz como o país atua regionalmente: com baixa institucionalidade e pouco compromisso.